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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Srs homens, não tenham vergonha!


 
“Nenê Hilário tirou uma licença por tempo indefinido, por razões médicas pessoais. Em respeito à privacidade e ao desejo de Nenê, divulgaremos maiores informações quando disponíveis” (Anúncio oficial do Denver – equipe de basquete dos EUA - em janeiro de 2008)

No início deste ano um caso de câncer chamou a atenção da mídia: Nenê, jogador brasileiro de basquete junto ao Denver da NBA dos EUA, afastava-se das quadras e a privacidade exigia que, momentaneamente, não se divulgasse por qual motivo de saúde. Naturalmente várias especulações ocorreram até que se diagnosticasse o câncer de testículo. Muito se fala que o câncer que mais acomete o homem é o de próstata - correto - mas pouco se fala de câncer de testículo ou de pênis. Isso tem uma razão: em 2005, levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) mostrou que a incidência do câncer de próstata no Brasil é de aproximadamente 51 (cinqüenta e um) casos novos a cada 100 mil habitantes, enquanto que para o câncer de testículo a ocorrência de 2 (dois) casos para cada 100 mil habitantes. Ou seja, há muito mais casos de câncer de próstata entre a população masculina, o que o deixa mais divulgado. No entanto, o que pouca gente sabe é que há um tipo de câncer que pode levar à amputação do órgão genital masculino, o câncer de pênis. No Brasil, este câncer representa cerca de 2% do total de tumores no homem e é cerca de 5 (cinco) vezes mais comum nas regiões Norte e Nordeste em comparação às regiões Sul e Sudeste. Segundo a SBU estes casos têm estreita relação com baixas condições sócio-econômicas da população masculina, onde a falta de cuidados com a higiene do pênis, e a falta de trato a pequenas rachaduras ou a leves ferimentos são apontados como co-responsáveis.
O apelo no título deste artigo é para um sentimento: o de que o homem não deve ter vergonha para tratar destas questões, principalmente quando tal omissão pode pôr em risco sua vida, seus planos futuros, seus sonhos. Então, façamos uma breve reflexão sobre o que este sentimento pode significar. Há muita resistência (e folclore) quanto ao exame da próstata: piadas masculinas decorrentes, vergonha em assumir ter realizado o exame de toque, etc. Mais recentemente, exames laboratoriais (PSA sérico) têm postergado o de toque retal, minimizando o que para muitos homens é um constrangimento. Ora, foi apenas por ter realizado um exame de urina anti-doping que Nenê, um jovem atleta de 25 anos de idade soube de seu diagnóstico e, o mais importante, conseguiu a tempo livrar-se do câncer de testículo. Não fosse isto, tivesse ele outra profissão que não exigisse tal cuidado com a saúde, como estaria hoje? Pela intervenção médica ocorrida em tempo, evitou-se a metástase, ou seja, com que as células cancerígenas espalhassem-se pelo corpo e com isto que se agravasse ou comprometesse a saúde e a vida de Nenê.
Chega de preconceitos! O espaço psicoterápico, muito mais acessível nos dias de hoje e que também luta contra seus próprios preconceitos (quem disse que psicólogos e psiquiatras são só para loucos?) é o ambiente propício para o acolhimento. Suspeitas de câncer tipicamente masculinos são negadas com muita freqüência, evitadas de se falar, relegadas a um segundo plano. O homem pode passar a se dedicar intensamente ao seu serviço como se o trabalho fosse preencher esta lacuna que o impediria de pensar, de refletir e de tomar uma atitude frente a esta realidade. Não raro, em muitos casos, alguns “afogam-se na bebida” ou passam a viver frustrados e deprimidos.Um acompanhamento psicológico durante a fase laboratorial e ainda no pré/pós cirúrgico (quando for o caso) auxilia em muito ao homem a fortalecer-se para melhor superar momentos de dificuldades e de preconceitos como este.
De nossa ilustração, o final feliz é que após os procedimentos clínicos que a situação exigia Nenê está recuperado. Na última semana de março retornou simbolicamente às quadras jogando o minuto final de uma partida de basquete: “Este minutinho que joguei foi um momento maravilhoso!”, disse ele. Agora é preciso a realização de check-ups periódicos para observação, pois o câncer de testículo diagnosticado como foi, é curável em mais de 95% dos casos.Sua equipe, o Denver, venceu o jogo, enquanto que Nenê, empurrado pelas circunstâncias, venceu uma das partidas mais difíceis de sua vida.

César A R de Oliveira – psicólogo

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