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terça-feira, 6 de outubro de 2015

Monja Coen em Passo Fundo

            Em setembro, no dia seguinte à chegada da primavera, esteve em Passo Fundo a monja Coen Sensei, a quem tive a oportunidade (bem como os demais que estavam no auditório lotado do IMED) de ouvir em palestra e com isto poder levar para casa ressonando em minha mente uma série de reflexões. Para muitas pessoas é inevitável a associação da palavra monge a budismo, como se a temática devesse ser unicamente religiosa. Na ocasião, dentre muito do que foi dito, fixei-me na preocupação dela com relação à imigração em massa que ocorre neste momento na Europa. Sobre o assunto, a monja nos levou à reflexão humanitária que o caso requer. Movimentos migratórios povoaram o mundo formando civilizações, propiciaram miscigenações raciais, religiosas e culturais, afinal, somos o resultado disto. Se na região sul do Brasil estão presentes descendentes de alemães e de italianos, no centro sul há a maior colônia japonesa do mundo fora do Japão, e em muitas regiões litorâneas há a predominância de afrodescendentes ou de portugueses, por exemplo. Dados oficiais de 2014 contabilizam a entrada recente no Brasil de cerca de 50 mil imigrantes haitianos, os quais, na tentativa de superar todas as barreiras preconceituosas existentes, esforçam-se para ter aqui uma vida melhor e mais digna do que aquela no país de origem.  
            Há um termo muito antigo denominado xenofobia e que serve para designar formas de aversão ao estrangeiro, quer em repulsa, em atitudes ou mesmo por preconceito. Como disse a monja, “migrar não é fácil”...  Há uma incerteza com relação ao futuro, há a necessidade de adaptação à cultura e ao idioma, além da superação da natural barreira - ainda que não explícita - da rejeição. Mas o que pode levar a alguém a não acolher um refugiado de guerra, um retirante do campo, em suma, não estender a mão a um necessitado? (lembrem-se de que há migrações internas no Brasil também). Se há um coro universal clamando por justiça social, paz, amor, fraternidade, qual o nosso papel neste momento, apenas esperar ações dos governos? É coerente estarmos sensíveis/comovidos ao que assistimos – à distância - pela televisão, enquanto permanecemos em estado de inércia e de indiferença aos muitos necessitados à nossa volta?
            Precisamos de mais pessoas que nos sensibilizem a olhar para o sofrimento humano, a nos indicar a direção do bem, da fraternidade, do amor ao próximo. Precisamos da mídia, de novelas e de noticiários que nos desacomodem acusando tais problemas e que nos deixem desconfortáveis. Talvez isto possa nos lembrar também que podemos ser pessoas ativas em alguma causa, que o nosso exemplo pode mobilizar a outros, contagiar um grupo de amigos, uma associação, uma classe, e dai sim fazermos a diferença. Gosto de uma música de Nando Cordel onde diz que a Paz no mundo começa em nós.... Não dá para nos sentirmos em paz com tantas coisas desta ordem acontecendo à nossa volta, mas podemos começá-la.


César A R de Oliveira – psicólogo

saude_mental@outlook.com