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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Lésbicas, nossos corpos nos pertencem!!!

“Contra todo o tipo de violência e de opressão! Em cada beijo uma revolução!­ – palavra de ordem na marcha

O mês de agosto marcou o cenário feminino do sul do Brasil com a realização na capital gaúcha da 1ª Jornada Lésbica Feminista do RS, mês intitulado pela Liga Brasileira de Lésbicas como o da visibilidade lésbica. No domingo passado, milhares de mulheres e de simpatizantes da causa participaram da III Marcha Lésbica de Porto Alegre (e a primeira do Rio Grande do Sul) que culminou com um show musical no Parque da Redenção em defesa da bandeira da diversidade sexual e pela autodeterminação das mulheres: “nossos corpos nos pertencem!” era o slogan.
A tônica que pautou a Jornada foi o preconceito sofrido por estas mulheres com a alegação de que mais de trinta direitos que são naturalmente assistidos a heterossexuais lhes são negados: direito a união estável, a adoção, a herança, a pensão, a juntar renda com a companheira para fins de locação ou aquisição de imóvel, a inseri-la como dependente de plano de saúde ou de abatimento para Imposto de Renda, dentre outros.
Falar/escrever sobre sexualidade é sempre algo delicado, toca-se na intimidade do ser humano que muitos preferem ignorar. Há mais de um século Freud preocupou-se também em estudá-la e sofreu severas críticas, principalmente por referir-se a existência de sexualidade nas crianças, algo inaceitável para a cultura da época.
Tema intrínseco à nossa condição, sexualidade, quando entendida como “anormal”, por vezes ocupa o lugar de pecado frente às questões religiosas, de crime com tipificação penal em algumas sociedades e de patologia, perversão ou de desvio comportamental ante algumas ciências.
Não é difícil entendermos o quanto sofrem as mulheres que tem um comportamento sexual diferente daquele que a cultura entende como aceito, basta que demos atenção a elas e as escutemos. Sobre homossexualidade feminina, o filme “Assunto de meninas” trata da história de uma adolescente que é levada após a morte de sua mãe (a pedido de sua madrasta) para um colégio interno formado apenas por garotas. Lá ela descobre que suas duas colegas de quarto são, na verdade, amantes, e precisa lidar com esta realidade. Já o filme “Meninos não choram” traz a história de uma menina em crise de identidade sexual que adota o comportamento masculino e veste-se de menino, não sem pagar caro por isto. Sofrimento psicológico, preconceitos e humilhações decorrentes fazem parte de seu cotidiano. E a vida imita a arte.
Um grave erro da maioria das pessoas é o de confundir sexualidade com genitália, nesta concepção, restam apenas dois pólos: ou se é macho ou fêmea. Acontece que em comportamento sexual há muito mais do que polaridade, e, por mais que encontremos pessoas felizes em suas diversas sexualidades, geralmente estas sentem-se incompletas  justamente por que o olhar social as restringem. Então, andar de mãos dadas na rua, trocar beijos e carícias (mesmo aquelas permitidas a casais heterossexuais) em locais públicos, nem pensar! E esta é a queixa de mulheres lésbicas. Podem ser alunas estudiosas, boas profissionais, amigas sinceras, cumpridoras de suas obrigações sociais, e, no entanto, sofrerem por terem de ocultar não só da sociedade mas até mesmo de seus familiares suas sexualidades. E infelizmente isto se faz necessário por uma questão de sobrevivência, certamente muitas perderiam seus empregos (obviamente que demitidas por outras alegações que não a da sexualidade) e encontrariam muito mais dificuldades.
Está em curso ainda para este ano em diversas partes do mundo, a Marcha Mundial das Mulheres, onde o grito feminino será intensificado contra todos os tipos de preconceitos e de injustiças por elas sofridos, o que é muito bem vindo. Homossexualidade não é nenhuma novidade ou produção pósmoderna, ela acompanha o ser humano (e comprovadamente até alguns animais de outras espécies) desde os primórdios. O que pode ser novo – e modificado - é nosso olhar de respeito e consideração a esta expressiva parcela da humanidade. Estima-se que de 10% a 15% da população mundial seja composta por homossexuais.

César AR de Oliveira – psicólogo

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