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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Estresse de Professores

“Em geral, as pessoas têm medo de confessar que não estão bem,  
porque isso pode significar confessar incompetência”
Eliana Moura, pesquisadora -Feevale
Uma pessoa que é referência no Brasil quando se aborda assuntos relativos a estresse é a psicóloga Ana Maria Rossi, a qual é presidente da ISMA, International Stress Management Association (uma associação internacional para estudos, pesquisa e desenvolvimento da prevenção do estresse) e que recentemente organizou em Porto Alegre um encontro internacional sobre o tema. Em outra ocasião, o Sindicato dos Professores do RS solicitou uma pesquisa a esta associação sobre qual o nível de estresse dos professores gaúchos, e, grosso modo, em um dos resultados, 45,8% da categoria considerou-se estressada. Mas o que entendemos por estresse? Academicamente há duas definições: uma de caráter salutar (eustresse) e outra prejudicial à saúde (distresse), a qual é a forma mais referida quando se aborda a questão. Então, culturalmente, quando se fala de estresse as pessoas o associam à sua forma negativa, na qual começam a surgir sintomas como dores de cabeça e nas costas, suor nas mãos, insônia, perda de foco e de libido, por exemplo.
Há uma exigência social demasiada com relação ao papel dos professores, cobranças que às vezes são injustas na medida em que se esperam providências ou procedimentos que não lhes caberiam, ao mesmo tempo em que por parte destes há uma queixa da falta de envolvimento dos pais na vida escolar de seus filhos. Neste interjogo de expectativas e frustrações, de sobrecargas de jornadas de trabalhos, às vezes divididos entre escolas da rede pública ou privada onde se tenta conciliar interesses pessoais, surge o adoecimento laboral e uma tensão constante que leva o estresse a se tornar crônico. “Nesse estágio, podem aparecer problemas emocionais, hipertensão, úlceras, gastrites, fadiga crônica, diabetes e alterações no sono, dentre outras manifestações”, explica Ana Maria Rossi.
O que muitos professores deveriam considerar, é que os problemas que se manifestam no corpo como falta de voz, dores de coluna, de cabeça, pressão arterial elevada dentre outros, são decorrentes da atividade laboral, mas que poderiam ser minimizados se mantidos o equilíbrio físico e mental. Em um levantamento realizado entre professores de nível universitário em Minas Gerais apurou-se que 48,6 % fazem uso de automedicação como forma de solucionar seus problemas, e ainda, que há aqueles – somados a estes ou não - que recorrem também ao consumo de bebidas alcoólicas como paliativo. Ambas as medidas são notoriamente abomináveis e não servem como solução. Medidas estruturais dos sistemas de ensino, melhores condições de trabalho, de remuneração e de credibilidade aos professores seriam basilares para a provocação de mudanças neste quadro. Dentre o que poderiam os professores fazer para minimizar os efeitos negativos do estresse, é o que sempre se recomenda a uma vida saudável e de melhor qualidade: a prática regular de atividades físicas não competitivas, alimentação adequada (no caso específico habituar-se a tomar muita água e evitar o cafezinho e os cigarros), buscar um sono reparador e um convívio social que inclua também pessoas de outras atividades profissionais.
São muitos os sentimentos de um professor adoecido, e alguns o levam a negar a si mesmo sua fragilização, passando a trabalhar de qualquer jeito. A negação, como mecanismo de defesa psíquica, acaba sendo extremamente prejudicial na medida em que os professores vão desconsiderando pequenos avisos de estresse, assim, somente com um “apagão” (burn out) é que deparam-se com as limitações da doença.
Porém hoje, quando as afecções de saúde mental (estresse, depressão, fobias sociais, p.ex.) que atingem milhares de pessoas em todo o mundo passam por um processo de maior reconhecimento, o momento é o de poder se abrir para a compreensão de que doença ocupacional não é um fracasso individual, mas resultado de um processo coletivo e que necessita de uma discussão na própria categoria e no corpo dissente.
Aos professores, cuja data oficial se deu neste mês de outubro, o meu reconhecimento, pois diariamente nos damos ao trato da leitura e da escrita sem sequer nos darmos conta de que se o fazemos, é porque um dia nos ensinaram.

César AR de Oliveira – psicólogo

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