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segunda-feira, 31 de março de 2014

Trânsito, bicicletas e humanização

Na última quinta feira dia 20 de março (2014) em Porto Alegre duas jovens universitárias morreram atropeladas por ônibus enquanto deslocavam-se em suas bicicletas, e, no domingo à noite, outro ciclista foi atropelado na capital, mas sobreviveu. O fato de acontecerem estas duas mortes em um intervalo inferior a oito horas, chamou a atenção de mídia, pois, no momento em que até mesmo em cidades menores o trânsito fica mais caótico e estressante e que as bicicletas ressurgem como possibilidades “sustentáveis”, o desrespeito à vida continua.
Mais uma vez poderemos ouvir o chavão “banalização da morte”. Morrem pessoas todos os dias, morrer é natural, assim como achamos natural também ter pressa no trânsito, cometer pequenas faltas se entendermos justificáveis (incluam-se ignorar faixa de segurança – local onde uma das ciclistas foi atropelada - passar ao sinal vermelho, estacionar em locais não permitidos, calçadas, esquinas, mesmo que implique em dificultar a visibilidade e a segurança dos demais). Também é normal atender ao telefone, ler e até mesmo enviar mensagens de texto enquanto se dirige! Só não achamos normal quando quem morre é alguém que nos é próximo, e, no ano passado a capital registrou oito mortes de ciclistas no trânsito, nenhuma nos disse respeito.
No velório, a fala em entrevista da amiga de uma das ciclistas mortas nos é muito peculiar; disse: “as pessoas [que dirigem] não tem educação mesmo”... Mas, e se esta moça dirige (ou certamente algum familiar seu o faz), ela considera-se também sem educação? Se, algum familiar, o que faz para corrigi-lo? O fato é que tendemos sempre a apontar no outro o problema. No protesto realizado na sexta feira à noite, centenas de ciclistas bloquearam o cruzamento de um dos locais de acidente e manifestaram suas indignações com a falta de respeito no trânsito, e, chamou-me a atenção de que a tônica da manifestação era pela humanização do trânsito.
Como psicólogo com especialização em Psicologia do Trânsito escrevo agora sobre o óbvio, a teórica composição do triângulo do trânsito, a saber, O SER HUMANO, o veículo e as vias.  Desnecessária a observação de que o único ser pensante neste contexto e que influencia nos demais somos nós, a quem cabe toda e qualquer possibilidade de mudança para um trânsito seguro e, efetivamente humanizado. A observação de um repórter que esteve no local de protesto é digna de nota. Escreveu: “A manifestação, porém, não teve características de um protesto carregado de queixas e reivindicações. Em verdade, a ação foi envolta por contornos de emoção, pedidos de humanidade, paz e harmonia”.

Cada um de nós pode fazer algo por um trânsito mais humano: como pedestres, ciclistas ou condutores de veículos.