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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Proteção demais....

“Ei, mãe, não sou mais menino, não é justo que também queira parir meu destino...” – Roberto Carlos
  

Toda a criança necessita de proteção para um melhor desenvolvimento e crescimento, e não há dúvidas de que esta tarefa deve ser inicialmente incumbida aos pais. Mesmo na modernidade, onde é frequente a ocorrência de mães que trabalham fora de casa e de pais que dedicam boa parte do tempo à educação dos filhos, ainda são elas as que mais envolvem-se neste processo. Todavia, quando há uma ausência decorrente de pouco convívio entre mãe/filhos, corre-se o risco de que esta seja compensada com muito apego, e o que era para ser saudável pode tornar-se prejudicial. A autonomia das crianças, suas autoestima e confiança, serão melhores resolvidas se estas tiverem oportunidades para suas tentativas, onde erros e acertos serão parceiros na construção de um aprendizado.
Fala-se muito em limites na educação dos filhos, até que ponto eles podem ir, porém, a recíproca deve prevalecer também para os pais: eles devem poder distinguir até aonde suas preocupações com os filhos não são exageradas. Muito deste comportamento controlador vem da forma como estes pais foram criados, de suas experiências infantis, de suas carências afetivas ou de suas estruturas de personalidades. O ciclo vital pelo qual passam, seja por casais jovens e inexperientes ou mesmo por pais de idade mais avançada (que podem achar estarem velhos demais para criar os filhos) influenciam neste afazer. Ainda, a ausência de um dos cônjuges, seja por separação, morte ou por contingência de afastamento para o trabalho, pode levar a quem permanece (normalmente a mãe) a cometer exageros. E isto serve tanto para crianças, adolescentes ou mesmo adultos jovens que ainda moram juntos. O filme brasileiro Através da Janela é um exemplo disto, retrata a relação de uma mãe, viúva, com seu único filho que (apesar de seus 22 anos de idade) é tratado como se dependesse da mãe para tudo, desde lhe servir o café da manhã até a recortar jornais para auxiliá-lo na busca por um emprego. A conseqüência dos exageros por ela cometidos se vê na película e na vida real de muitas famílias.   
É comum, num ambiente de insegurança paterna, a manifestação desta através de um estado elevado de ansiedade dos pais, o qual deve ser controlado sob pena de que tal sentimento venha a ser percebido e transferido também para os filhos. Em era de avanços tecnológicos, há pais que através de um telefone celular imiscuem-se na vida de seus filhos monitorando-os permanentemente, de maneiras a obter com isto alguma forma ilusória de tranquilidade. Não raro, pais com comportamentos superprotetores tendem a reeditar com seus filhos dificuldades que tiveram em suas adolescências, simplesmente atualizando seus medos sem tê-los superados. Como na letra em epígrafe, pensam que devem ser unicamente os responsáveis pelos destinos de seus rebentos.
O crescimento dos filhos é um processo natural e que deve ser enfrentado como um desafio, não cabendo aos pais utilizar o discurso do perigo para impedir o distanciamento. Por sua vez, a distância saudável dos filhos não significa um afastamento afetivo, os pais podem ser excelentes educadores sem, no entanto, estarem muito apegados ou – em lado oposto - indiferentes. Crescer não implica em despedaçar a família de origem, mas em transformá-la sem permanecer enredado na ilusão de que a família é o mundo inteiro e que o próprio espaço de vida se esgota nela. Cabe aos pais conversar e refletir sobre suas dificuldades na educação de seus filhos, lembrando que tal ofício requer curiosidade e busca de informações sobre o que está acontecendo no mundo deles. Mas apressem-se, as mudanças estão rápidas demais.

  

César AR de Oliveira – psicólogo