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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sobre algumas mentiras...




“Enganar a nós mesmos permite-nos manipular egoisticamente os que nos cercam e permanecer convenientemente inocentes perante os próprios olhos.” David Smith - psicólogo


Um dos significados dados ao “Primeiro de Abril” está relacionado à enganação, ao Dia dos Bobos, à mentira. Muitas brincadeiras são feitas em nome destas mentiras, as quais, em outros contextos, tendem a ser atitudes reprováveis. Educamos nossos filhos com afirmações como a de que mentir é feio e que não deve ser feito, no entanto, basta uma criança um pouco atenta para nos apanhar em contradições. Toca o telefone de casa e antes mesmo de atender o pai diz: “Se for para mim(sic) digam que não estou...”, sem preocupar-se com as consequências de sua fala.
A dissimulação é um artifício, segundo alguns biólogos, empregado por muitas espécies de seres vivos, de vegetais a seres humanos, sendo entendida até mesmo como inata a todos nós. Não é preciso mais do que abrir um livro, ver um filme, assistir à televisão para nos depararmos com toda a sorte de ardis que o homem é capaz de criar. Diversos profissionais que estudam o comportamento humano relatam as mais prolixas pesquisas e experiências que comprovam atitudes enganosas em diferentes idades, classes sociais e culturais. Mente-se para obter uma vantagem, para não ser multado no trânsito, para justificar um atraso, para obter prestígio, para uma conquista amorosa e para tantas outras situações cotidianas. Mente-se também de forma não verbal escondendo a verdade ao utilizar-se de maquiagens, de cirurgias consideradas cosméticas, ao cobrir-se de objetos de grife ou então ao aparentar-se condição social elevada em um flamante carro novo (enquanto se evita o contato com a escola dos filhos que está com os pagamentos atrasados...).
Mas, embora de uso comum e tolerada enquanto não nos cause problemas (mais do que aos outros) a mentira tem um limite. Há pessoas que enredam-se tanto com mentiras que acabam autoenganando-se, acreditando até mesmo que estejam falando a verdade, tornando-se persuasivas. Agem assim como uma forma de fuga à realidade, pois é melhor acreditar no fantasioso uma vez que lhes causa menos sofrimento. Todavia sempre emerge uma ponta de verdade que faz com que essas pessoas sofram, pois empenham muita energia psíquica para manterem as condições enganosas. O temor da vergonha de que venham a ser descobertos, as frustrações decorrentes disto, tudo acaba por gerar um mal estar a ponto de causar manifestações fisiológicas como dores de cabeça, sudorese, taquicardia, alteração na pressão arterial dentre outras.
Agir sob o signo da mentira, leva a pessoa a querer manipular os outros e, em muitas vezes, a comportar-se de forma desrespeitosa, o que pode gerar mais adiante um sentimento de culpa (quando não se tratarem de psicopatas). Quando confrontada a pessoa mentirosa pode tornar-se irritada e agir tempestuosamente, gerando um clima de desconforto e de constrangimento até mesmo para outros que estejam no ambiente. Há ainda as que mentem para ocultar um comportamento compulsivo, como o de uma compra inadequada, o hábito de beber as escondidas ou a gula por doces ou comidas, por exemplo, mas que sofrem caladas por não poderem revelar a verdade.
Bem, nestes casos, o doloroso encontro com a realidade passa por uma psicoterapia voltada ao entendimento de tal comportamento, ao estudo e a análise sobre a influência dessa conduta na vida do sujeito e sobre o quanto lhe tem sido prejudicial. Alguns perfis de personalidade são mais propensos a apresentarem características que o jargão médico chama de “mitomania”, ou seja, a utilização da mentira como uma forma de amenizar a vida. Mas com esforço, dá para conviver com ela sem sofrimentos.
 

César AR de Oliveira – psicólogo