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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

GRUPOS DE WHATS APP: A proximidade que pode afastar

Na prática terapêutica um tema tem sido recorrente nos últimos tempos: o cliente relata algum mal entendido ocorrido em postagens em grupos de “relacionamentos” e que alguém ficou ofendido e saiu do grupo; o final da história todo mundo conhece... Seja a finalidade do grupo do aplicativo para integrar colegas de trabalho, de condomínio ou familiares, o ponto em comum é que de certa forma colabora para que se mantenham os contatos, pois, mesmo não postando algo, pode-se ler as manifestações dos demais. Um edifício de mais de oitenta condôminos que tinha em suas assembleias semestrais não mais do que quinze pessoas, agora anda em alvoroço com o grupo criado e as trocas de farpas entre muitos que, sequer alguma vez estiveram presentes em reuniões para, cara a cara, ou, olhos nos olhos, poderem dialogar. E o mesmo acontece entre familiares quando alguns residem até mesmo em outras cidades: o que poderia servir para integração acaba por prestar-se antagonicamente.
Não sou avesso às tecnologias, mas sou um usuário que procura fazê-lo com bom juízo, tirando o melhor proveito. Quero dizer que a falta de diálogo tem gerado muitos sofrimentos sem que alguns sequer percebam. Alguém me disse: “... mas eu mandei uma mensagem, ele que não leu!”. Isto não é diálogo, é simplesmente escrever um bilhete e manda-lo virtualmente, não substitui a presença, o aperto de mãos, um abraço, o estar à frente de um sorriso (ou até mesmo de uma cara carrancuda). A capacidade da comunicação e as propriedades da fala e da escuta atenta são ótimas ferramentas quando bem utilizadas. As emoções que surgem nos encontros (sejam de alegria e prazer ou de tensão e medo) todas, nos constituem e nos amadurecem, servem de aprendizado para que repassemos aos nossos filhos, irmãos, amigos, colegas, elas nos transformam.
Mas como conviver nesta cibernética sem esquecer nosso lado humano? Simples: tendo a todo o momento a consciência de nossa humanidade. Atitudes de tolerância, compaixão, compreensão, aceitação, são importantes exercícios para nosso bem estar. Mas está pensando em praticar isto com os outros? O que estou propondo é que primeiro tenha esta experiência consigo mesmo: seja mais tolerante com seus erros, tenha mais compaixão com seus sofrimentos (eles estão ai para que sejam pensados, repensados e transformados!); mais compreensão ao lembrar-se de que nem todos pensam como você, e, finalmente, - dito popular - a aceitação de que aquilo que não puder ser remediado, remediado está.
Conviva virtualmente com estes aplicativos, mas apenas o necessário, pois excessos de grupos não nos tornarão mais aceitos, mais queridos, pelo contrário, tomarão muito de nosso tempo dificultando que olhemos para nós mesmos. Agora, não seria interessante – mesmo que pelo Whats App – convidar um amigo para um encontro, um cafezinho, um tempo para efetivamente, conversarem? Melhore suas relações, melhore a si mesmo, aproxime-se!
César A R de Oliveira – psicólogo
saude_mental@outlook.com

METAMORFOSE AMBULANTE

Nos anos 80 o atual treinador da seleção brasileira de vôlei, Bernardo Resende, Bernardinho, era um levantador reserva daquela seleção, papel secundário e discreto (mas não menos digno) e que lhe rendeu muita experiência e oportunizou aprendizagem para chegar aos dias de hoje como treinador bicampeão olímpico. Após a conquista do título desta olimpíada no Rio de Janeiro, proferiu a seguinte frase: " Quando eu gritava com a geração passada, eles se sentiam estimulados em me provar que eram capazes. Esse time não, se eu passar a tensão pra eles, eles absorvem, ficam nervosos e não respondem bem." . Deixa claro que nos últimos anos adotou um perfil diferente para conduzir os jogadores, mudou, e é sobre isto que escrevo: nossa capacidade de mudanças.
Reconhece o treinador que a atual equipe é diferente daquela da geração anterior, foi necessária uma transformação, afinal, os tempos mudaram, o momento é outro e as exigências também. Diariamente somos forçados a muitas adaptações por cobranças externas a nós (aprender a utilizar um computador, um smartphone, trocar o talão de cheques pelo cartão de crédito...) e nos descuidamos com outras mudanças que deveriam partir de nosso Eu. Falta de paciência, agressividade, ansiedade, insegurança, pressa, falta de tempo, dirigir no trânsito, se tudo isto está nos atrapalhando o que nos impede de mudar? Novas posturas que nos beneficiariam deixam de ser adotadas apenas por faltas de atitudes, de nossas atitudes! O livro Transformando Suor em Ouro, escrito pelo treinador há dez anos, traz muitas lições de atitudes que poderíamos adotar para cada situação, mas o título da obra por si só é emblemático e diz tudo: é preciso suar para obter uma transformação.
Quantas equipes não prosperam, empresas vão à falência, governos beiram a ineficiência, simplesmente por que não se permitem mudanças, continuando a entoar o mantra “Eu sempre fiz assim...”? Agora vamos aos núcleos familiares: quantos casamentos vão mal, quantas relações de pais e filhos são estressantes unicamente por que algumas pessoas mantêm-se inalteradas em suas convicções e posturas? Precisamos nos permitir, quem sabe, como dizia Raul Seixas, ser “ ... uma metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.” Quando mudamos, o mundo muda.
Quando encontramos no consultório pessoas dispostas a deixar de lado uma vida infeliz e de sofrimentos o trabalho psicoterápico flui com muito mais naturalidade, e, havendo cooperação, disposição e principalmente o entendimento de que as mudanças na vida decorrem de resultados de atitudes, o suor (e não raras vezes o choro) efetivamente vira ouro! Aposte em si, em sua capacidade de mudar, com certeza, muito daquilo que aparenta ser um problema hoje, com novas atitudes, deixará de sê-lo.
César A R de Oliveira – psicólogo

O ANTÍDOTO PARA A CULPA É O PERDÃO

Aprendemos desde cedo que uma forma de ser educado é a de pedir “des-culpas”. Então, sem nos darmos conta, vamos pedindo o tempo todo para que nos tirem a sensação de culpa por algo que fizemos ou pensamos ter feito de errado. A reflexão que se propõe é para chamar à atenção de que nos momentos em que nos sentimos culpados, estamos, na maioria das vezes, dirigindo nossa frustração, raiva ou indignação contra nós mesmos! E isto é justo?
Se durante o desenvolvimento infantil é que se estrutura a personalidade, é na vida adulta (a maior parte de uma existência) que se encontram os reflexos de situações das culpas da infância. Quantas vezes nos desanimamos quando crianças tendo de agir como nossos educadores queriam, para agradar, para melhor conviver, sem termos no entanto a possibilidade de sermos quem somos. E como isto acontece nos dias de hoje? Consigo efetivamente ser em meu trabalho o que eu penso que sou? Nas relações sociais e familiares, represento um papel acumulando culpas ou procuro uma forma de minimizar este sofrimento?
Em sessões de psicoterapias é recorrente ouvirmos de pessoas de todas as idades queixas de algum sentimento de culpa, e estas são relatadas sob a origem nas mais variadas circunstâncias e ocorridas em qualquer momento da vida, mas que as fazem sofrer hoje. A regra é culparem-se tanto por ação como por omissão, pois tanto faz se algo foi feito ou deixou de sê-lo, resta que sentem-se culpados.
É de uma clareza racional a afirmação de que todas as pessoas erram, mesmo querendo acertar. Por outro lado, ainda que o erro seja intencional (por vingança, raiva, impulsividade) ele pode em algum momento gerar também um sentimento de culpa e posterior sofrimento ao seu autor. Uma pessoa acometida de culpa pode somatizar, ou seja, desenvolver doenças que a incapacite para o trabalho ou para o convívio social, o que acaba igualmente por perturbar sua família, colegas de trabalho ou de escola.
Mas como desculpar-se? Numa referência ao título deste artigo, a melhor forma de poder lidar com sentimentos de culpa é utilizando-se do perdão. Perdoar não significa esquecer, sugere, pois, uma transformação de sentimentos. Não sendo exclusivamente uma palavra de cunho religioso, perdoar, neste contexto, pode assemelhar-se ao termo aceitação, referido por Carl Gustav Jung como uma poderosa forma de transformação. É em aceitando que somos falhos que poderemos buscar a reparação daquilo que entendemos como errado, possibilitando assim, que se amenize o sentimento de culpa. Quando aceitamos também, que outros podem errar para conosco, fica mais fácil a compreensão e a solução dos problemas decorrentes. Por fim, se quando irritados com nossas falhas dirigimos certa agressividade a nós mesmos, com a aceitação (perdoando-nos), perceberemos que é possível vivermos sem culpa, ou, pelo menos, minimizando nosso estado de sofrimento.
César A R de Oliveira - Psicólogo