logo

logo

quinta-feira, 22 de março de 2012

Disfunção sexual masculina e desejo

“O homem não está na cama para se divertir, mas para provar que é formidável como amante, chantageado com a idéia de que, se não o fizer, será desprezado, posto sob suspeita de não gostar de mulher, desqualificado como homem e como pessoa.” (Veiga, 1997)



Extraí do livro O aprendiz do desejo (Cia das Letras) do psicanalista Francisco Veiga a citação em epígrafe. A partir desta, é possível perceber o quanto o homem cobra de si mesmo sobre seu desempenho sexual, sobre sua virilidade, sobre os atributos masculinos. No entanto – no texto – a idéia que o chantageia, mais do que sua, é da coletividade: afinal, as chacotas e a humilhação poderão vir de outros homens, ou então, (escárnio!) circular entre as conversas femininas.

É da nossa cultura a pressão exercida sobre os homens quanto à maneira que deveriam extravasar seus sentimentos, afinal, “Homem não chora” e deve manter-se sempre forte e, não bastasse, disposto a provar-se forte. Com relação à disfunção erétil, a clássica frase “Isto nunca aconteceu comigo antes...” é uma forma racionalizada de negar a vulnerabilidade à falha. Mas de que falha falamos? A disfunção erétil por si constitui-se como tal ou a falha encontrar-se-ia em outro local?

Entenda: A disfunção erétil (popularmente chamada de impotência sexual masculina) tem suas causas nos fatores emocionais tanto quanto nos fatores físicos. Alterações vasculares, má formação peniana, diabetes, fugas venosas, hipertensão, tabagismo, alcoolismo, entre outros, podem causar esta disfunção sexual, mas o que se vê também na clínica psicológica é que a ansiedade, a depressão, a baixa auto-estima e o estresse são também os grandes responsáveis por essa situação que é vista com tanto preconceito pelos homens.

De qualquer forma, essa disfunção atinge homens de todas as idades e classes sociais, além de provocar muita frustração, vergonha, angústia e medo. Na realidade, a maioria dos homens tem muita dificuldade de aceitar que podem estar com problemas sexuais, uma vez que muito da auto-estima está embasada na ereção do pênis, e essa vem do universo masculino e da eleição de seus ícones de virilidade, tais como, músculos, força física, inteligência, e, sem dúvidas, ereção.

Evidentemente que em uma investigação sobre tal disfunção sexual não descartam-se as questões de ordem biológicas, mas, eliminados os riscos do indivíduo ter desenvolvido uma doença ainda sem diagnóstico, a investigação deve ser também das condições emocionais dessa pessoa e conseqüentes comprometimentos.

Não ser formidável como amante é um dos maiores temores masculinos e é capaz de determinar os rumos de qualquer relacionamento, pois é sabido que os homens não aceitam falhar neste aspecto e se sentem desmoralizados, uma vez que este fato é tido como um atentado mortal não só à sua virilidade, mas à sua masculinidade e poder como um todo. Mas “provar” sua performance para quem? E onde é que fica o desejo? “A infinito delírio chamado desejo, esta fome de afagos e beijos, esta sede incessante de amor...” Partindo do que nos diz o poeta, permitimo-nos interpretar que o desejo, este entusiasmo sem fim, que tem sede e fome – e por isto vive! – é carente de afetos, e aí reside a diferença entre os homens que buscam sexo daqueles que buscam afetos: no segundo grupo, há que se ter desejo. Para Platão, o desejo é característico daquele que vive, que sente sua incompletude. Para a Psicanálise, é o que move o sujeito em direção ao Outro em busca da completude.

Então, muito antes de que nos sintamos pressionados pelo grupo, ou por aquilo que se esteriotipize como cultura masculina, é preciso parar e pensar: há desejo? Afinal, precisamos levar em conta que estamos lidando com nossos sentimentos e com o dos outros, e que destes, resultamos nós, protagonistas de nossa felicidade, ou não.

A disfunção sexual pode e deve ser tratada tanto por médicos quanto por psicólogos. Quando necessário e quanto antes o indivíduo procurar ajuda, mais rápido esse problema poderá se resolver.

 

César A R de Oliveira

Psicólogo