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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Nossa, já estamos no final de novembro!





 “O tempo passa, e com ele caminhamos todos juntos, sem parar...” Os Incríveis

Não se assuste: muitas pessoas já devem ter constatado isto e feito tal exclamação, e outras ainda a farão brevemente. O fato é que a noção de tempo é subjetiva e a convenção entre horas e minutos não são percebidas igualmente. Há muitas coisas escritas sobre isto, e há quem diga que a rotina é a principal responsável, pois quando entramos em um estado de automatismo (dirigindo e fazendo outras coisas sem a devida atenção, por exemplo) não vemos o tempo passar.   
Nesta linha, para quem está impactado com mais uma chegada de final de ano, sugiro que questione-se sobre o quanto de rotina tem em sua vida. Toda a vez que fazemos algo novo, diferente, nosso cérebro nos exige uma maior atenção pois está em pleno processo de aprendizagem, o que envolve uma série de estímulos sensoriais e emocionais. Lembre-se sobre como foi quando começou a dirigir, a andar de bicicleta e então observe como faz isto hoje. Há quem diga que quando fazemos as coisas de forma repetida, sem pensar ou sem grande concentração, tais experiências não passam por uma etapa mental e então, após executadas, são rapidamente apagadas de nossa memória. Desta forma, aos saltos, nos encontramos no final de um dia.
O antídoto está em buscar novas situações ou em aguçarmos nossa percepção para aquilo que estamos fazendo. Se por um lado a rotina nos dá muita agilidade e facilidade na execução de algumas coisas, ela nos rouba o sabor de experienciarmos novidades, e é para isto que devemos agir. Buscar fazer e conhecer coisas novas, mudar de itinerário em nossos deslocamentos, trocar um corte de cabelo, a maneira de nos vestirmos, sermos criativos. Invertamos cada dia e cada instante podem ser excelentes inovações para saborearmos melhor o momento.
O Frei Leonardo Boff escreveu um artigo sobre a Ressonância Schumann baseado na teoria do físico alemão W O Schumann, de que a terra é cercada por um campo eletromagnético e isto faz com que os seres vivos pulsem a uma frequência mensurável de 7,83 hertz. Diz ainda que com um acréscimo ocorrido nesta medida (causados por má gestão humana na Terra) estaríamos na atualidade sob a influência de uma pulsação em torno de 10 hertz, sendo isto o responsável pelos desequilíbrios ecológicos e pela rapidez com que as coisas acontecem, fazendo com que o homem apresse o seu ritmo e assim o tempo flua mais rapidamente. Não seria uma mera impressão pois os dias, com esta frequência alterada, estariam durando atualmente o equivalente a um dia de 16 horas de outras épocas.
É claro que sempre que uma teoria quebra os paradigmas vigentes o rechaçamento é inevitável. A humanidade reagiu assim contra o heliocentrismo, para com a teoria da relatividade e com muitos conceitos modernos da física quântica. Teoria ou não, a Ressonância Schumann serve de reflexão, pois todos nós em algum momento nos surpreendemos com a agilidade dos ponteiros (ou dígitos) de um relógio. Resta então, ante uma luta perdida contra o avanço do tempo, nos darmos conta de que somos os autores de nossas vidas. Uma boa observação sobre nossas atitudes rotineiras pode nos fazer voltar o olhar para aquilo que não conseguimos ver mesmo estando muito próximos. Se por um instante acreditarmos que nosso dia poderia durar cerca de 16 horas, imaginemos como faríamos para nos ajustarmos a ele sem correrias, deixando o supérfluo para depois, como forma de aproveitarmos melhor nossas vidas.   



César AR de Oliveira – psicólogo

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Para quê tanta pressa?




“Ando devagar porque já tive pressa, e levo este sorriso, porque já chorei demais...” Almir Sater  

Tocando em frente é o nome da composição de Renato Teixeira musicada pelo Almir Sater que sugere o texto em epígrafe e que induz a reflexões.
A mais de dez anos há um movimento internacional - cujo ícone muito bem escolhido é um caracol – chamado Slow Food e que se opõe como forma de reação aos fast food (lanches rápidos) tão bem identificados com a cultura norteamericana. Há argumentos de sobra para sua existência, uma vez que as decorrências de uma alimentação inadequada geram preocupações governamentais para os EUA com relação à saúde de seu povo, chegando a certo momento ao absurdo prognóstico de que uma geração inteira de filhos pode ter longevidade menor do que a de seus pais como consequência de seus maus hábitos alimentares. Por ações antecipadas, felizmente, este quadro está mudando.
Transpondo tal preocupação para nossa realidade e com a indagação de sobre como estamos nos alimentando, mais do que escrever a respeito de aspectos nutricionais, quero me referir ao poder das reuniões familiares propiciadas em torno de uma mesa. Ainda, como moradores de cidade do interior do estado, temos muitas pessoas almoçando em suas residências durante a semana, o que não quer dizer que sejam poucos os que o façam fora. Na área central de Passo Fundo há muitos restaurantes oferecendo almoços a baixo custo, o que, se somado aos gastos em transporte de ida e vinda para casa e mais o tempo que isto ocupa naquele intervalo, acaba sendo atrativo para que se almoce longe da família. De menores custos mas igualmente opositores aos almoços familiares estão os lanches rápidos.
Estudos indicam que o almoço ou um jantar em família têm sido relacionados a uma maior satisfação conjugal, melhor senso de identidade pessoal por parte dos adolescentes, maior saúde de crianças, satisfação com o desempenho escolar ou de trabalho e fortalecimentos das relações familiares, por exemplo. Uma família que almoce três dias da semana reunida poderá ter ficado pelo menos uma hora em convívio e tratando de seus assuntos, além de muito provavelmente ter algum ganho em aspectos relacionados à qualidade nutricional da alimentação, sempre melhor quando feita desta forma e que acabam tornando-se hábitos saudáveis para todos.     
Na mesma linha, a importante revista Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine publicou recentemente um estudo com quase cinco mil crianças/adolescentes de 11 a 18 anos de idade mostrando que as refeições em família frequentemente são associadas a um menor risco do desenvolvimento do hábito de fumar, beber e usar maconha, entre os jovens. Tal estudo indicou também uma menor incidência de sintomas de depressão e pensamentos suicidas, além de notas mais altas na escola. Vários são os benefícios de quando se tem uma família reunida e disposta ao diálogo, e os instantes das refeições, bem aproveitados, servem para isto também.
Quanto ao movimento Slow food, o mesmo tem como seus propósitos o da preservação da biodiversidade e também o de desenvolver o prazer do gosto por comer. Muitas pessoas acabam, por uma pressa geralmente inexplicável, engolindo e não saboreando sua comida. Assim, perdem de apreciar os sabores da vida, e, num trocadilho inteligente da música de Sater, deixam de diferenciar “o sabor das massas e das maçãs...”. Ao simpatizarmos ao movimento Slow food, e, conciliando a este o prazer de reunir a família em torno de uma refeição, teremos benefícios que transcendem o simples aspecto de parar para comer. Estaremos dando maior qualidade de vida a nós mesmos e àqueles que amamos.
 

César AR de Oliveira – psicólogo

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Tabagismo e Personalidade


“...uma vez conhecendo a personalidade dos usuários* (*tabagistas), após um atendimento individual, ou com base em dados de literatura, o terapeuta pode direcionar um aconselhamento clínico específico para cada indivíduo." Ricardo Gorayeb, professor da Universidade de São Paulo -USP

Na última quarta feira, no mundo todo, o tabagismo ganhou destaque por se tratar do Dia Internacional de Combate ao Fumo. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam para uma prevalência de consumo que varia de continente para continente, mas, em termos gerais, aproximadamente 20% da população mundial é tabagista.
Em nossa cultura, ainda que considerado um atentado à saúde própria e comprovadamente aos que convivem com um dependente (fumantes passivos), o tabagismo goza de legalidade, muito embora Leis estaduais, municipais ou atos administrativos cerceiem cada vez mais o hábito. Mesmo que os prejuízos à saúde do corpo como câncer, enfizema pulmonar, envelhecimento da pele e tantos outros sejam enfaticamente abordados, há, para a psicologia – e não menos importante - o sofrimento psíquico da dependência.
Há um estudo feito na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) o qual indica que apesar de a literatura mostrar que cerca de 70% dos fumantes afirmam querer parar de fumar, poucos conseguem: a maior parte precisa de cinco a sete tentativas antes de definitivamente largar o cigarro. Mas o que os prende ao vício? A dependência à nicotina, possivelmente, pois esta é uma desordem complexa e difícil de ser superada, porém não é intransponível. A motivação para deixar o hábito é um dos fatores mais importantes na cessação do tabagismo e está implicada a uma gama de variáveis hereditárias, fisiológicas, ambientais e psicológicas. Ou seja, o primeiro passo é querer.
Outro estudo publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia de autoria de três professores doutores na área da saúde, destaca que algumas características de personalidade dos fumantes agem como obstáculos à cessação do tabagismo. O fato é que fumantes não constituem um grupo homogêneo e as pessoas têm diferentes razões ou motivos para fumar, além disto, algumas podem ser influenciadas simultaneamente por variáveis individuais e fatores situacionais.  O estudo aponta ainda que duas classes de situações parecem desencadear o desejo de fumar: uma delas consiste em situações entediantes, que produzem necessidade de aumentar a estimulação cortical enquanto que a outra seria produzida por estresse. Tanto o tédio quanto o estresse devem ser analisados durante o processo terapêutico.
Ao considerarmos aspectos da personalidade e suas relações com o tabagismo, fica óbvio que um paciente com ansiedade elevada requer uma abordagem diferenciada da de um depressivo, já que a síndrome de abstinência causada pela falta da nicotina (possivelmente a maior causa da manutenção do vício) terá a intensidade dos sintomas variados em intensidade para cada um. O malestar gerado pela abstinência do cigarro pode iniciar dentro de algumas horas após a interrupção e atingir o auge poucos dias depois sem o cigarro. As maiores queixas de quem parou de fumar se referem à compulsão aumentada, à irritabilidade e à dificuldade de concentração que perduram por muito tempo. Em muitos casos este estado pode ser observado por trinta dias ou mais, mas os sintomas de compulsão podem durar meses ou anos, requerendo atenção constante.
Outras relações com a personalidade foram encontradas indicando uma maior prevalência de casos de transtorno de pânico, esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção, alcoolismo e até mesmo de comportamento violento entre tabagistas.
Muitas dificuldades surgem na vida de quem está disposto a abandonar o cigarro, porém, os ganhos obtidos após, compensam qualquer sacrifício. A eliminação do odor característico que fica impregnado nos cabelos, na pele e nas roupas são o primeiro ganho, depois, com o tempo (e a ajuda de um dentista), o amarelo dos dentes dará lugar a um sorriso misto de saúde e de felicidade, a desintoxicação gradual do organismo se fará sentir e uma nova pessoa ressurgirá. Sempre é tempo de parar de fumar e de tomar a iniciativa para uma primeira tentativa. Em qual você vai conseguir? Dê-se esta oportunidade, apenas tente.    

 César AR de Oliveira – psicólogo

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Proteção demais....

“Ei, mãe, não sou mais menino, não é justo que também queira parir meu destino...” – Roberto Carlos
  

Toda a criança necessita de proteção para um melhor desenvolvimento e crescimento, e não há dúvidas de que esta tarefa deve ser inicialmente incumbida aos pais. Mesmo na modernidade, onde é frequente a ocorrência de mães que trabalham fora de casa e de pais que dedicam boa parte do tempo à educação dos filhos, ainda são elas as que mais envolvem-se neste processo. Todavia, quando há uma ausência decorrente de pouco convívio entre mãe/filhos, corre-se o risco de que esta seja compensada com muito apego, e o que era para ser saudável pode tornar-se prejudicial. A autonomia das crianças, suas autoestima e confiança, serão melhores resolvidas se estas tiverem oportunidades para suas tentativas, onde erros e acertos serão parceiros na construção de um aprendizado.
Fala-se muito em limites na educação dos filhos, até que ponto eles podem ir, porém, a recíproca deve prevalecer também para os pais: eles devem poder distinguir até aonde suas preocupações com os filhos não são exageradas. Muito deste comportamento controlador vem da forma como estes pais foram criados, de suas experiências infantis, de suas carências afetivas ou de suas estruturas de personalidades. O ciclo vital pelo qual passam, seja por casais jovens e inexperientes ou mesmo por pais de idade mais avançada (que podem achar estarem velhos demais para criar os filhos) influenciam neste afazer. Ainda, a ausência de um dos cônjuges, seja por separação, morte ou por contingência de afastamento para o trabalho, pode levar a quem permanece (normalmente a mãe) a cometer exageros. E isto serve tanto para crianças, adolescentes ou mesmo adultos jovens que ainda moram juntos. O filme brasileiro Através da Janela é um exemplo disto, retrata a relação de uma mãe, viúva, com seu único filho que (apesar de seus 22 anos de idade) é tratado como se dependesse da mãe para tudo, desde lhe servir o café da manhã até a recortar jornais para auxiliá-lo na busca por um emprego. A conseqüência dos exageros por ela cometidos se vê na película e na vida real de muitas famílias.   
É comum, num ambiente de insegurança paterna, a manifestação desta através de um estado elevado de ansiedade dos pais, o qual deve ser controlado sob pena de que tal sentimento venha a ser percebido e transferido também para os filhos. Em era de avanços tecnológicos, há pais que através de um telefone celular imiscuem-se na vida de seus filhos monitorando-os permanentemente, de maneiras a obter com isto alguma forma ilusória de tranquilidade. Não raro, pais com comportamentos superprotetores tendem a reeditar com seus filhos dificuldades que tiveram em suas adolescências, simplesmente atualizando seus medos sem tê-los superados. Como na letra em epígrafe, pensam que devem ser unicamente os responsáveis pelos destinos de seus rebentos.
O crescimento dos filhos é um processo natural e que deve ser enfrentado como um desafio, não cabendo aos pais utilizar o discurso do perigo para impedir o distanciamento. Por sua vez, a distância saudável dos filhos não significa um afastamento afetivo, os pais podem ser excelentes educadores sem, no entanto, estarem muito apegados ou – em lado oposto - indiferentes. Crescer não implica em despedaçar a família de origem, mas em transformá-la sem permanecer enredado na ilusão de que a família é o mundo inteiro e que o próprio espaço de vida se esgota nela. Cabe aos pais conversar e refletir sobre suas dificuldades na educação de seus filhos, lembrando que tal ofício requer curiosidade e busca de informações sobre o que está acontecendo no mundo deles. Mas apressem-se, as mudanças estão rápidas demais.

  

César AR de Oliveira – psicólogo

quinta-feira, 22 de março de 2012

Disfunção sexual masculina e desejo

“O homem não está na cama para se divertir, mas para provar que é formidável como amante, chantageado com a idéia de que, se não o fizer, será desprezado, posto sob suspeita de não gostar de mulher, desqualificado como homem e como pessoa.” (Veiga, 1997)



Extraí do livro O aprendiz do desejo (Cia das Letras) do psicanalista Francisco Veiga a citação em epígrafe. A partir desta, é possível perceber o quanto o homem cobra de si mesmo sobre seu desempenho sexual, sobre sua virilidade, sobre os atributos masculinos. No entanto – no texto – a idéia que o chantageia, mais do que sua, é da coletividade: afinal, as chacotas e a humilhação poderão vir de outros homens, ou então, (escárnio!) circular entre as conversas femininas.

É da nossa cultura a pressão exercida sobre os homens quanto à maneira que deveriam extravasar seus sentimentos, afinal, “Homem não chora” e deve manter-se sempre forte e, não bastasse, disposto a provar-se forte. Com relação à disfunção erétil, a clássica frase “Isto nunca aconteceu comigo antes...” é uma forma racionalizada de negar a vulnerabilidade à falha. Mas de que falha falamos? A disfunção erétil por si constitui-se como tal ou a falha encontrar-se-ia em outro local?

Entenda: A disfunção erétil (popularmente chamada de impotência sexual masculina) tem suas causas nos fatores emocionais tanto quanto nos fatores físicos. Alterações vasculares, má formação peniana, diabetes, fugas venosas, hipertensão, tabagismo, alcoolismo, entre outros, podem causar esta disfunção sexual, mas o que se vê também na clínica psicológica é que a ansiedade, a depressão, a baixa auto-estima e o estresse são também os grandes responsáveis por essa situação que é vista com tanto preconceito pelos homens.

De qualquer forma, essa disfunção atinge homens de todas as idades e classes sociais, além de provocar muita frustração, vergonha, angústia e medo. Na realidade, a maioria dos homens tem muita dificuldade de aceitar que podem estar com problemas sexuais, uma vez que muito da auto-estima está embasada na ereção do pênis, e essa vem do universo masculino e da eleição de seus ícones de virilidade, tais como, músculos, força física, inteligência, e, sem dúvidas, ereção.

Evidentemente que em uma investigação sobre tal disfunção sexual não descartam-se as questões de ordem biológicas, mas, eliminados os riscos do indivíduo ter desenvolvido uma doença ainda sem diagnóstico, a investigação deve ser também das condições emocionais dessa pessoa e conseqüentes comprometimentos.

Não ser formidável como amante é um dos maiores temores masculinos e é capaz de determinar os rumos de qualquer relacionamento, pois é sabido que os homens não aceitam falhar neste aspecto e se sentem desmoralizados, uma vez que este fato é tido como um atentado mortal não só à sua virilidade, mas à sua masculinidade e poder como um todo. Mas “provar” sua performance para quem? E onde é que fica o desejo? “A infinito delírio chamado desejo, esta fome de afagos e beijos, esta sede incessante de amor...” Partindo do que nos diz o poeta, permitimo-nos interpretar que o desejo, este entusiasmo sem fim, que tem sede e fome – e por isto vive! – é carente de afetos, e aí reside a diferença entre os homens que buscam sexo daqueles que buscam afetos: no segundo grupo, há que se ter desejo. Para Platão, o desejo é característico daquele que vive, que sente sua incompletude. Para a Psicanálise, é o que move o sujeito em direção ao Outro em busca da completude.

Então, muito antes de que nos sintamos pressionados pelo grupo, ou por aquilo que se esteriotipize como cultura masculina, é preciso parar e pensar: há desejo? Afinal, precisamos levar em conta que estamos lidando com nossos sentimentos e com o dos outros, e que destes, resultamos nós, protagonistas de nossa felicidade, ou não.

A disfunção sexual pode e deve ser tratada tanto por médicos quanto por psicólogos. Quando necessário e quanto antes o indivíduo procurar ajuda, mais rápido esse problema poderá se resolver.

 

César A R de Oliveira

Psicólogo

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

SÃO TANTAS EMOÇÕES...


“Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi!” – Roberto Carlos


Para uma melhor compreensão, o entendimento de emoções como sinônimo de sentimentos (da maneira abordada neste artigo) não obedece ao rigorismo acadêmico, mas sim ao senso comum. Algumas patologias psíquicas têm por sintoma o embotamento afetivo, uma forma de não manifestação de emoções que pode ser confundida como um comportamento de indiferença. Porém, no dia a dia da sociedade, encontramos muitas pessoas com dificuldades ou impossibilidade de manifestarem suas emoções sem que no entanto estejam doentes. Nossos próprios conceitos sobre emoção são por vezes distorcidos: se tomamos uma decisão baseados em nossos sentimentos corremos o risco de crítica por não termos levado em conta a razão. O dicionário Aurélio traz por definição ao termo emotivo a expressão “homem sensível”, e a este, “...aquele capaz de expressar sentimentos humanitários”.  Mas quando e como expressamos nossos sentimentos? Quando podemos expressar nossa sensibilidade?
Como uma espécie de linguagem universal, as expressões faciais de emoções são idênticas em todas as culturas, o que se diverge é sobre quais seriam as emoções básicas: medo, felicidade, tristeza e raiva para alguns, acrescidos de nojo e surpresa para outros. Não obstante, o que mais pesa é a cobrança social destas como formas de comportamentos. O cliente quer um profissional que o receba com disposição, bom humor, educação, pouco importando sobre que tipos de problemas possam estar ocorrendo em sua vida pessoal. Emoções que não estejam em sintonia com o esperado resultam em um olhar de desconfiança, ou até mesmo de reprovação, e o difícil é aparentar um estado emocional que esteja em conflito com os sentimentos próprios. Uma boa forma de amenizar tais situações é nos questionarmos sobre se o fato que está por nos tirar do sério merece toda a importância que estamos dando-lhe. Ao conseguirmos manter o distanciamento interno necessário será mais fácil manter a calma, pois em muitas das vezes trata-se de uma relação casual e desprovida de intencionalidade em nos atingir. Nosso colega poderia ter atendido aquela pessoa mal humorada e ter “sobrado” para ele.
O fato é que pessoas estressadas ou em estado depressivo tem muito mais dificuldades em controlar suas emoções, e por conta disto, a fisiologia pode alterar-se: insônia, gastrites, dores musculares, e, em decorrência, as relações sociais, de trabalho e até mesmo a conjugal podem ficar comprometidas.
Mais do que ficar a criticar os outros e aos fatores exógenos que nos levam a este mal estar, devemos procurar formas de amenizar tal sofrimento. Técnicas de relaxamento respiratório e postural auxiliam, assim como encarar tais situações como um desafio, e não um problema. Além disto, após uma situação estressora é preciso uma pequena pausa para voltar à calma, para distinguir o momento e evitar com que outras pessoas que não fizeram parte da situação anterior sejam atingidas. E o fundamental: ser tolerante, pois é preciso considerar que outras pessoas, assim como nós, cometem erros.
Quanto ao questionamento sobre quando/como devemos expressar nossos sentimentos, devemos levar em contar sobre o quanto seremos observados. Estudos na Universidade de Ulm (Alemanha) mostrou que a percepção das expressões faciais alheias é possível e está condicionada sobre ao tempo de exposição ao observador. Ou seja, ainda que se tente dissimular sentimentos, muito provavelmente há chances de que nosso interlocutor perceba nossa intenção. Ainda que se consiga êxito no aparentar sentimentos, devemos levar em conta que para nós, a verdade é outra, Ou superamos o momento enfrentando a situação que nos incomoda ou estaremos propensos a um sofrimento que estará mascarado na dissimulação destes.     


César AR de Oliveira – psicólogo

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sobre Autoestima


“Falta ambição para o Brasil se tornar uma superpotência” – Parag Khanna – consultor de política externa do presidente americano Barack Obama 

A manifestação supracitada pode, para alguns, causar indignação: o que um gringo tem a ver com nossas coisas, nossa brasilidade? Ainda que a referência seja ao nosso país, nossa individualidade está atingida pois somos nós quem fazemos (ou deveríamos) nossa Nação.
Acontece que tal sentimento fere nosso orgulho e pode ter forte relação com nossa autoestima. De forma simplificada, ela pode ser definida como aquilo que pensamos a respeito de nós mesmos e que repercute em nossas relações afetivas, sociais e profissionais. Também está relacionada com a autoimagem que fazemos e, por conseguinte, sobre como interfere em nossas vidas.
Há um grande engano pensar que apenas uma autoestima elevada seria o ideal de vida de cada um. Diferentemente disto, o desejável seria uma autoestima estável. Reconhecer-se forte, inteligente, bem ajustado socialmente é um bom indicativo quando, ao mesmo tempo, somos capazes de admitir que temos algumas fraquezas, temores e que não somos onipotentes. Desta forma o caminho para a aprendizagem e o amadurecimento passa a ser um processo natural.
Pessoas com autoestima saudável são capazes de valorizar pequenas conquistas, de diversificar interesses, desempenhar diferentes papéis, e atuar bem nas relações familiares, profissionais e de amizades, além de manter uma boa autonomia em suas vidas. Tais aptidões são benéficas à medida que viabilizam a aceitação social, pois, do contrário, um sentimento de rejeição viria acompanhado muitas vezes de comportamento depressivo, de menos-valia e de ojeriza à própria imagem. A desvalorização social interfere nos mecanismos de autocontrole que permitem enfrentar desafios novos de forma equilibrada. Em 1930, ao escrever sobre O mal estar na civilização, Freud disse que um dos grandes obstáculos do homem em sua busca pela felicidade, e que lhe traz maiores dificuldades, é o sofrimento resultante das relações humanas.
Pessoas que sentem-se atingidas em sua autoestima podem perder o domínio de si e a vontade de se esforçar, sentindo-se limitadas e com a impressão de que os que estão à sua volta estão lhe observando (e a seus defeitos) o tempo todo. Valorizar as próprias qualidades e saber de suas limitações podem ser ferramentas imprescindíveis ante a situações de crise ou de fracasso, todavia, o mais importante é não isolar-se ou ficar centrado no próprio sofrimento, é preciso ver outras possibilidades.
Uma pessoa com baixa autoestima não está propensa ao uso compulsivo de bebidas de álcool, drogas ou a comportamento agressivo. Há estudos americanos que concluem ainda que também o desempenho escolar ou profissional não são afetados por isto, todavia, há um forte indicativo de que autoestima adequada está proximamente relacionada com felicidade, com um menor índice de depressão. Na Universidade americana de Utah, 13 mil universitários foram entrevistados e alegaram que a autoestima era a principal causa de satisfação com a vida.
Em uma pesquisa realizada pelo Jornal de Personalidade e Psicologia Social (EUA), no Brasil, cerca de um terço da população relaciona a autoestima com a satisfação com a vida em geral, o restante, inclui a satisfação financeira como fator para uma boa autoestima.
A busca pelo autoconhecimento e o melhor ajustamento da autoestima como ferramenta de grande utilidade nas relações sociais, possibilitaria um melhor convívio em grupo e nos fortaleceria na persistência diante do fracasso, além do que, o relacionamento saudável conosco mesmo nos possibilitaria maior felicidade.

César A R de Oliveira – psicólogo

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Boas Férias, mas.....



“Relaxa e goza, porque depois você esquece todos os transtornos”. Ministra Marta Suplicy, junho 2007

Nesta época do ano muitos argumentos são direcionados para as férias: aproveite bem seu 13°, revise seu carro, seja moderado, beba muita água, use filtro solar, pague seu IPVA e IPTU com descontos etc... Todavia, é preciso que se tenha um bom proveito deste período para que, desfrutando de um merecido descanso, possamos reiniciar um 2012 (mais longo e com menos feriadões) em excelentes condições psíquicas e físicas. Qual a necessidade de levar seu note-book para a viagem de férias? É preciso olhar seus e-mail diariamente? E o celular, dá para deixar mais tempo desligado? Bem, quanto à televisão e jornais, estariam te deixando realmente de férias? Lembre-se que você não é insubstituível em seu trabalho.
Uma série de indagações poderia ser feita, mas, na essência, troco-a por uma orientação: mudança de comportamento. É preciso estar disposto a entrar em férias e saber que outras tantas pessoas estão com os mesmos planos. Todos querem ir à praia no mesmo horário que você, todos resolvem ir à pizzaria igualmente à mesma hora e minuto, e assim é para pegar o pão e o leite no supermercado à noitinha, ir à sorveteria, ir para a estrada e tudo o mais. Filas.  Adianta irritar-se? Transformar este pequeno período de descanso em uma ocorrência policial ou em uma gastrite vale a pena? É preciso mudar o comportamento. Seja mais tolerante, mais educado. Se você conhece bem o local lembre-se de que muitos turistas estão indo para lá pela primeira vez e não conhecem ruas e cruzamentos. Seja mais amigável, dê a preferência, dê passagem a quem estiver necessitado. Cumprimente seus vizinhos ou usuários da mesma pousada, não custa. Goste de si mesmo, seja mais um de seu fã clube. Se precisar de ajuda, peça-a. Seja bem humorado, não se leve à sério demais. Procure estimular sua vida espiritual, a paz interna nos deixa dormir melhor. Caminhe mais, olhe com mais atenção o que está à sua volta. Coma devagar e saboreie os alimentos. Sorria.
É preciso lembrar que o estresse, segundo a Organização Mundial de Saúde, está entre as cinco doenças de saúde mental que mais causam incapacitações no mundo. Um quadro de estresse crônico afeta o sistema imunológico, aumenta o risco de males cardíacos, pode levar à queda acentuada de cabelos, com o aumento da dosagem de glicose no organismo pode aumentar o risco de diabetes e de obesidade, a queda dos níveis de testosterona faz diminuir o desejo sexual, enfim, uma série de malefícios ao organismo poderia ser citada. Então, opte pelas vantagens de uma mudança de comportamento.
Infelizmente, para muitos, o estresse só torna-se legitimado como doença quando os sintomas falam mais alto. “Fulano passou mal no trabalho, estava com uma dor no peito, acho que é coração!”; “Como é que pode, ele nunca tinha desmaiado antes...”; ou: “Não dá para aguentar o chefe, anda irritadinho e brigando com todo mundo”. Então, por que esperar as consequências se podemos realizar ações preventivas de forma a evitá-las?  Um check-up médico periodicamente é uma excelente forma de prevenção, assim como um acompanhamento psicoterápico como meio de facilitar a expressão de sentimentos e de se permitir a uma reflexão. Cuidados alimentares, prática de atividades físicas, higiene de sono e psicoterapia, podem ser algumas das boas coisas que você pode dar-se o ano todo.
Bem, quanto às férias, na hora de vir embora pegue tudo o que foi sugerido como mudança de comportamento, arrume um lugarzinho no porta-malas (sempre se dá um jeito) e traga-o consigo. Pode ter certeza, o seu novo ano será muito melhor, seus amigos parecerão mais amigos, seu trabalho renderá mais, sua família terá mais atenção, sua saúde terá mais qualidade e, ao final, você terá muito a ganhar. É só uma pequena mudança de comportamento e que depende apenas de você. E se o conselho da notável Ministra não lhe for ofensivo...

César A R de Oliveira