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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A homossexualidade lhe incomoda?



“O jovem travesti que conheci no Bohêmio (casa de espetáculos em SP} olhava espantado um casal gay a se beijar. Inquiriu-me com repugnância: ‘Como é que pode? Dois homens... assim, se beijando?’ (Silva, 2007)


Os meios de comunicação têm sido generosos com a apresentação de filmes, novelas, notícias, documentários e livros onde a temática seja a de casais homossexuais. Recentemente o filme O segredo de Brokeback Mountain (2006) foi indicado a oito Oscars; Duas novelas da Rede Globo trouxeram em horário nobre alguns dos sofrimentos pelos quais passam casais homossexuais masculinos e noticiários deram conta de um casal de professoras que foi demitido por comportamento sexual inconveniente em sua escola. Muito embora o prefeito demissor tenha outra versão, o fato é que na maioria das vezes em que as pessoas falam sobre homossexualidade, valores (os seus ) éticos e morais permeiam o discurso.
A verdade é que o comportamento sexual de cada um, quando manifesto, passa pelo olhar do outro. Então, somente aquilo ao qual a cultura impinge como normalidade é o que poderá ser aceito. Mas onde está a normalidade? O escrito em epígrafe foi extraído do livro Travestis, entre o espelho e a rua do antropólogo carioca Hélio Silva (ed. Rocco, 2007) Nele, um travesti – ao qual a nossa cultura considera como um comportamento desviante – espanta-se com o comportamento de um casal gay, o que para muitos, causa outro espanto: como um travesti abisma-se com isto? Ele, por acaso, não beija também outros homens? A lógica é a seguinte: em sua cabeça, ele, o travesti, é mulher!
Na edição do ano de 1968, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) - livro de referência para a psiquiatria e profissionais da Saúde Mental - a homossexualidade aparecia em um capítulo sobre desvios sexuais, como um tipo de aberração na qual os interesses sexuais são “... dirigidos primariamente a objetos outros que não pessoas do sexo oposto”. No início da década de 70 a Associação Americana de Psiquiatria começou a reavaliar este conceito, não sem passar por um longo período de resistências e de discussões. Para a Classificação Internacional de Doenças, hoje CID-10, ainda na edição anterior (CID-9 de 1985) a homossexualidade ainda era considerada uma patologia. Anacrônico, o Deputado Estadual do Rio de Janeiro Edino Fonseca, em 2003, propunha a criação de um programa para tratamento psicológico de homossexuais, com o fim único de sua “recuperação”.
É preciso estar além dos preconceitos sociais com relação à homossexualidade, é preciso pensar no sujeito como ser humano, uma vez que é muito freqüente o surgimento de um quadro depressivo, de angústia e sentimentos de baixa-estima pela sensação de deslocamento que sofrem estas pessoas. Assumir uma condição homossexual pode engendrar uma séria de preconceitos: demissão de emprego - ainda que com motivos dissimulados – distanciamento social, isolamento, intolerância. Direitos decorrentes de união estável, projetos de adoção, possibilidades de uma vida afetiva em público tornam-se ideais distantes, às vezes quase inatingíveis, mas que podem tornar-se possíveis mediante muito esforço.
Tendo por máxima que a busca pela felicidade é inerente à condição humana, ainda que com limitações, é possível ao homossexual alcançá-la, porém, terá de empreender muito trabalho. Em que pese que o social o trate de forma discriminada, somente com uma conduta ética e de coerência pelo respeito humano é que ações inteligentes lhes garantirão direitos e lhes darão embasamento para realizar suas conquistas. Siga em frente.

César A R de Oliveira
Psicólogo

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