“Uma nos instrui, nos aconselha... a outra (a jovem) quer tudo aprender... A jovem acredita ter dito tudo despindo o vestido; mas uma mulher... se esconde sob mil véus... afaga todas as vaidades... Chegando a essa idade, a mulher sabe consolar em mil ocasiões em que a jovem só sabe gemer.” In A mulher de 30 anos, Honoré de Balzac
É em consideração ao dia Internacional da Mulher que escrevo hoje sobre um novo perfil de mulher, aquela da faixa dos cinquenta anos. Se por um lado há o peso da idade, por outro, há sempre a possibilidade de uma compensação pela maturidade, pela experiência, e pela sensação de liberdade conquistada. Mirian Goldenberg é uma carioca dessa faixa etária, e, como doutora em Antropologia Social, realizou uma pesquisa comparativa entre essas mulheres no Brasil, na Espanha e na Alemanha, de onde se pode extrair interessantes informações.
Naturalmente, neste período aparecem preocupações com relação ao corpo, afinal, os sinais dos tempos vão deixando suas marcas: artrites, dores na coluna, algum ganho de peso, mas, principalmente, as mudanças na aparência. Outra grande preocupação diz respeito da dificuldade de encontrar um parceiro, o que é considerado um verdadeiro bem para aquelas que mantêm um relacionamento estável. Paradoxalmente, é uma idade onde a sensação de liberdade é mais manifestada, visto que a obrigação de cuidar do marido e dos filhos já não é tão intensa como nos primeiros anos de uma vida conjugal, e também por poderem assumir uma vida autônoma com menos preconceitos do que em outras épocas.
Respeitadas as diferenças culturais, diferentemente das compatriotas, para as alemãs as principais preocupações dizem respeito à qualidade de vida que conquistaram. Ao invés de sentirem-se velhas e acabadas, elas sentem-se mais maduras, seguras e confiantes, sem preocupações com sexualidade ou com a de aparentar menos idade do que realmente têm, o que consideram como uma indignidade. Todavia, deste lado do Atlântico, para muitas mulheres o envelhecimento é tido como uma grande perda de vitalidade e de sexualidade, o que não precisaria ser assim.
Felizmente, nem todas as mulheres pensam da mesma forma. Aquelas que descobriram que apenas olhar para o que estão perdendo não leva a lugar algum (além do Vale da Lamúria) deram novos cursos às suas vidas. Diferentemente das mulheres que ficam comparando-se com as de outras faixas etárias ou encontram-se presas a um modelo anacrônico de velhice, a nova mulher sabe que a vida pode ser muito melhor quando se tem um projeto. Com a simples constatação de que o amadurecimento é uma continuidade de sua existência e não um “problema” que surgiu do nada, as mudanças decorrentes acabam sendo melhores administradas. Buscar novas formas de prazeres, de relacionamentos sociais, de compreensão sobre o quanto pode ser mais feliz aproveitando-se de suas experiências, e de aceitar as imperfeições e mudanças em seu corpo, colocam esta mulher em sintonia com a vida.
Em outra pesquisa recentemente realizada em nove países do mundo, 93% das brasileiras manifestaram queixando-se sobre os preconceitos que sofrem as mulheres maduras, entre eles a falta de produtividade no trabalho ou o suposto desinteresse pelo sexo. Isto é corroborado pela antropóloga quando afirma que as mulheres brasileiras não gostam quando são chamadas de “senhora”, quando dizem que gostariam de continuar sendo paqueradas na rua e de serem chamadas de “gostosa”, ou então, quando reclamam da falta de os homens olharem mais para seus corpos.
Sem qualquer exagero e até de forma elogiosa neste contexto, a moderna mulher de 50 anos pode ser comparada às balzaquianas descritas na primeira metade do século XIX por Honoré de Balzac em sua obra “A mulher de 30 anos” (epígrafe). De lá para cá as descobertas científicas, os avanços da medicina e das áreas da saúde mental deram mais qualidade de vida e por conseguinte longevidade a todas. Dito isto, àquelas que encontram-se confusas sobre suas identidades, um aviso: ainda é tempo de muitas conquistas e de felicidades, basta ter um projeto para este novo momento de vida.
César AR de Oliveira – psicólogo
Gostei desse artigo pai! *__* beijo
ResponderExcluirAos 50 anos vc acorda e sua casa está vazia. Os filhos sairam para investir em suas carreiras, suas vidas, viajaram, foram para outros países.
ResponderExcluirVocê está só, mas sua carreira está no topo. Possui poucos superficiais amigos e é tomada de tanto juízo que coloca em risco sua espontaneidade em relação à diversões corriqueiras. Vc entra e sai das academias de ginástica, das aulas de danças ou outras sem engrenar numa nova amizade. Vc está só na multidão. E o pior de tudo é que vc é a responsável por este afastamento, este isolamento talvez necessário neste momento para avaliação de uma fase que passou e a que virá.
Talvez seja transitória. Talvez mais adiante tudo isso seja apenas um pequeno vácuo, um instante de escuridão diante da luz nova que brilhará.