“...“Enganaste-te na pessoa ao escolheres um corpo para viver, cometeste um erro porque escolheste o meu”. Lance Armstrong, 37 anos
A frase acima foi proferida por um grande atleta americano logo após saber de seu diagnóstico de câncer. Num diálogo com a doença que lhe acometia com muita intensidade - pois fora diagnosticado um tumor no testículo, um no pulmão e outro no cérebro “do tamanho de bolas de golfe”- Lance Armstrong reagiu e superou-se. Após enfrentar esta luta contra o câncer, foi ainda, desde a criação em 1903 na França, o único vencedor por sete vezes consecutivas do Tour de France, (1999 a 2005) uma das provas de ciclismo mais difíceis do mundo cujo percurso no somatório das etapas chega a 3 mil quilômetros.
A forma positiva como reagiu Armstrong, motivou-o na criação de uma importante fundação que leva seu nome no apoio a vítimas de câncer e ainda na redação de dois livros de sua autoria que relatam sua façanha.
Recentemente, no ano de 1998 nos Estados Unidos, Martin Selligman, ex presidente da Associação Americana de Psicologia, deu origem a um movimento denominado Psicologia Positiva, o qual incluía psicólogos, pensadores e cientistas americanos de universidades importantes que buscavam aplicar um método científico-quantitativo a esta área. Tal movimento não se trata de uma nova Escola da Psicologia, assim como a Psicanálise, a Psicologia Comportamental ou outra, mas de uma forma de a psicologia colocar a sua atenção nos aspectos saudáveis do ser humano, diferentemente de algumas das tradicionais que focam o sintoma, a doença.
Na mesma linha de pensamento encontramos nas neurociências fundamentações de que os conceitos que estruturam nossos pensamentos ocorrem nas sinapses cerebrais, ou seja, de que mudanças comportamentais de enfrentamento a situações difíceis podem nos levar aos resultados desejados. É claro que muito disso pode ser encontrado em literaturas rotuladas de auto-ajuda, dando argumentação à contrariedade dos céticos, de que as coisas acontecem por que tem de acontecer e que só pensar de maneira diferente não vai resolver.
O Instituto Nacional de Saúde dos EUA realizou um rigoroso estudo científico sobre o tema Longevidade e Felicidade em 178 freiras de um convento no estado de Minessota. Todas mantinham um estilo de vida sem fumar e beber, seguiam a mesma dieta alimentar, usufruiam da mesma qualidade de assistência médica, enfim, padrões muito parecidos em suas vidas. Em um detalhado trabalho científico, os pesquisadores tiveram acesso aos diários dessas freiras, e, o grande achado, foi o de que aquelas que tinham registradas expressões do tipo “muito feliz, alegria, amor...” dentre outras emoções positivas, encontraram-se no grupo das que viveram até pelo menos os 85 anos de idade. Ou seja, as freiras que mais cultivavam sentimentos positivos viveram por mais tempo e com mais saúde.
Ante tantos referenciais, quero lembrar o filósofo Sêneca (séc I d.C.) que dizia que o homem preocupa-se em viver muito e não em viver bem, quando não depende dele viver muito, mas sim, viver bem. Uma concepção está imbricada com a outra pois é possível viver muito, desde que se viva bem. Então, neste final de ano, não se cobre em demasia estabelecendo metas, coisa futuras para serem atingidas, concentre-se no hoje, no aqui e no agora, na sua qualidade de vida. Por conseguinte, um dia bem vivido vai assegurar um amanhã melhor e a certeza de que ao olhar-se para o passado algo terá ficado. Não é à toa que o dia de hoje se chama “presente”, uma dádiva que poucos conseguem olhar assim: como um presente!
Pensar positivamente não é olhar o mundo com lentes cor-de-rosa, mas pode ser uma opção para darmos um colorido àquelas pessoas e coisas que insistem em permanecer na mesmice.
César A R de Oliveira – psicólogo