“Após muitas
horas de intensa concentração, durante as quais reviu sistematicamente todo o
conhecimento que tinha acumulado, percebeu, num súbito lampejo de intuição os
alicerces de uma ciência maravilhosa que prometia a unificação de todo o saber.”
(Fritjof Capra)
Em seu
clássico O ponto de mutação (Cultrix
1982) Capra – em epígrafe – escreve referindo-se como algo intuitivo ao anúncio
da grande descoberta de Descartes, “O
Discurso do Método...” que viria a influenciar o mundo e que é a base do
método científico até hoje. O próprio Descartes definia sua descoberta como uma
“visão de inspiração divina” e que a tivera revelada em um sonho. Por relatos
como este é que intuição pode ser definida como um termo que evoca uma
associação ao que é místico, justifica o fato também de ser chamada de sexto
sentido, muito atribuída ao feminino, ao divino ou ao religioso. Palavra oriunda
do latim intueri, cujo significado
pode ser o de “olhar para dentro”, tem sido destacada nos últimos tempos
ganhando uma maior aceitação também na comunidade científica.
Sobre isto, a
psicóloga americana Sharon Franquemont dá uma breve definição muito apropriada
e diz: “A intuição é o conhecimento que
surge sem o uso da lógica ou da razão”. Ora, colocada no patamar de conhecimento,
relega a um segundo plano quaisquer associações desta com adivinhações ou
sorte. Na psicologia poderemos encontrar em Carl G. Jung (psicólogo que
desenvolveu trabalhos com Sigmund Freud até que divergissem) algumas
considerações sobre intuição. Segundo Jung, a intuição utiliza a psique para
discernir sobre fatos e pessoas, uma vez que um ser intuitivo possui as
seguintes características: observa holisticamente, confia nos pressentimentos,
é consciente do futuro, é imaginativo e visionário. No ano passado esteve no
Brasil o físico-quântico indiano Amit Goswani, o qual, da mesma forma que Jung,
admite que além de sensação, pensamento e sentimento, a intuição é uma das
quatro maneiras de o homem entender a realidade.
Atualmente a
Psicologia Cognitiva apropriou-se de conhecimentos obtidos com as modernas
tecnologias e deu ênfase na abordagem da intuição de forma científica,
confirmando que há inúmeros processos mentais que ocorrem no nível
inconsciente, à margem de nossa percepção. Desta forma, a Psicologia Cognitiva
descreve a possibilidade da existência de dois caminhos para a elaboração do
pensamento na mente humana: o primeiro intuitivo, que opera sem que nos demos
conta, mas de forma rápida, automática, com alta carga emocional e sem exigir
esforços do indivíduo, enquanto que o outro processo se dá em nível consciente,
deliberado, racional e que requer esforço e atenção quando se quer utilizá-lo.
Todos nós
passamos, em algum momento, por aquela sensação de que impulsivamente sabemos
qual a decisão que devemos tomar, porém, racionalismos, medos e dúvidas nos
conduzem para uma outra opção. Mais tarde, livres de pressão, alguns até
arrependem-se de não ter “ouvido sua voz interior”.
De certa
forma, uma reformulação de nossas condutas podem nos auxiliar no melhor aproveitamento
de nossa intuição. Estar aberto a novas idéias nos recicla, nos oportuniza
outros horizontes e isto pode ocorrer na medida em que nos presenteamos com
tempos-livres propícios para novos conhecimentos. Introspecção e socialização
são importantes. Cultivar o silêncio em alguns momentos nos permite refletir
melhor e a dar ouvidos aos nossos pensamentos, por outro lado, termos objetivos
claros e nos motivarmos a trabalhos em equipe também potencializam nossas
capacidades.
Enfim, não é feio
ter intuição e nem demérito considerá-la em algumas decisões de nossas vidas. É
muito importante, porém, que tenhamos profundo conhecimento sobre nós mesmos,
de forma que estejamos mais confiantes quando optarmos por dar atenção a ela.
César
A R de Oliveira – psicólogo
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