“Cada episódio de raiva aumenta os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, enfraquece o sistema imune e aumenta o risco de doenças cardiovasculares.” Susan Andrews – psicóloga e monja iogue
Como psicólogo perito pelo Detran/RS, diariamente entro em contato com pessoas que buscam a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação, ou ainda, com motoristas que trabalham profissionalmente no trânsito e precisam da renovação de sua licença. Trânsito, assim como futebol (ou até mais, por envolver indistintamente toda uma sociedade) é uma área em que todo mundo têm um palpite. Em Passo Fundo nos últimos anos vêm ocorrendo mudanças radicais na sinalização de trânsito, na regulamentação de vias e de velocidades, o que, por exemplo, tem agradado a gregos e descontentado a troianos. Pouca gente se dá conta de que os estudos mais clássicos sobre trânsito definem que este sistema é composto por três elementos básicos: o condutor, a via e o veículo. Quando maldizemos mudanças viárias criticando os órgãos responsáveis estamos apontando em apenas uma direção, esquecendo que o número de veículos em circulação (outro fator), somente em Passo Fundo, tem aumentado aos milhares nos últimos anos e o principal, deixando de olhar para o mais importante integrante deste complexo: o ser humano.
A psicologia voltada ao trânsito de veículos automotores existe no Brasil há 60 anos, mesmo tempo em que o processo de avaliação psicológica - antigamente chamado de psicotécnico - vem sendo aplicado. Muito embora sejamos criteriosos por ocasião da avaliação para a obtenção da permissão para dirigir, qualquer um das centenas de milhares de condutores de veículos em circulação pode, a qualquer momento, ter desencadeado um processo de estresse agudo e vir a envolver-se em infrações ou acidentes de trânsito, por exemplo.
Mais do que estar preocupado por ocasião do momento da avaliação psicológica, as pessoas devem ter consciência de que um estado anormal de saúde psíquica na condução de um veículo pode resultar em morte, em paraplegias, amputações ou tantas outras sequelas que os incapacitem por definitivo ou lhes façam perder uma pessoa querida. Mas, como não ficar envolvido por esta enorme bolha estressora que é o trânsito?
Primeiro, não enganar-se pensando que “...estou brabo por que não acho vaga para estacionar....”. Resuma: “Estou brabo!”. A partir daí procure analisar se efetivamente é o trânsito o que lhe causa este mal estar, ou será que outras coisas em sua família, no trabalho, nas finanças lhe preocupam? A tão malfadada falta de tempo pode ser outra origem do estresse, daí a pressa em ter de achar uma vaga, ou de querer que a fila ande. Preventivamente, sabendo que o ato de dirigir nas cidades requer muita atenção e paciência, prepare-se, mude seus hábitos diários, mesmo aqueles que não perceba ter alguma relação com o trânsito. Dedique 30 minutos de seu dia para meditar ou relaxar, faça pequenos intervalos em seu trabalho para ir ao banheiro, tomar água ou café. Crie uma escala de importância para suas atividades, não faça diversas coisas ao mesmo tempo, não faça tudo também por meios eletrônicos, uma visita a um amigo ou cliente, um contato pessoal, faz diferença. E é claro, olhe para o seu prato (se é que não esteja alimentando-se em pé!), tome mais água, pratique algum exercício, dê-se um tempinho também.
Bem, para aqueles que não acharem possível proceder algumas mudanças em suas vidas vai o alerta: segundo a Organização Mundial de Saúde o estresse está entre as cinco principais causas psíquicas de falta ao trabalho e entre as que mais causam problemas sociais, tais como inimizades, separações, perdas de emprego e um forte desencadeador de quadros depressivos. É sabido que problemas cardiovasculares, e uma lista sem fim de sintomas podem ter sua origem num quadro de estresse agudo: irritabilidade, mau humor, ansiedade, inapetência sexual, gastrites, dores musculares decorrentes de tensões, envelhecimento da pele, e, com a baixa imunidade, a abertura de uma porta para tantas outras doenças infectocontagiosas.
É possível minimizar os efeitos de um estresse? Sim, é possível, basta mover-se.
César AR de Oliveira – psicólogo
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