Aprendemos desde cedo que uma forma de ser educado é a de pedir “des-culpas”. Então, sem nos darmos conta, vamos pedindo o tempo todo para que nos tirem a sensação de culpa por algo que fizemos ou pensamos ter feito de errado. A reflexão que se propõe é para chamar à atenção de que nos momentos em que nos sentimos culpados, estamos, na maioria das vezes, dirigindo nossa frustração, raiva ou indignação contra nós mesmos! E isto é justo?
Se durante o desenvolvimento infantil é que se estrutura a personalidade, é na vida adulta (a maior parte de uma existência) que se encontram os reflexos de situações das culpas da infância. Quantas vezes nos desanimamos quando crianças tendo de agir como nossos educadores queriam, para agradar, para melhor conviver, sem termos no entanto a possibilidade de sermos quem somos. E como isto acontece nos dias de hoje? Consigo efetivamente ser em meu trabalho o que eu penso que sou? Nas relações sociais e familiares, represento um papel acumulando culpas ou procuro uma forma de minimizar este sofrimento?
Em sessões de psicoterapias é recorrente ouvirmos de pessoas de todas as idades queixas de algum sentimento de culpa, e estas são relatadas sob a origem nas mais variadas circunstâncias e ocorridas em qualquer momento da vida, mas que as fazem sofrer hoje. A regra é culparem-se tanto por ação como por omissão, pois tanto faz se algo foi feito ou deixou de sê-lo, resta que sentem-se culpados.
É de uma clareza racional a afirmação de que todas as pessoas erram, mesmo querendo acertar. Por outro lado, ainda que o erro seja intencional (por vingança, raiva, impulsividade) ele pode em algum momento gerar também um sentimento de culpa e posterior sofrimento ao seu autor. Uma pessoa acometida de culpa pode somatizar, ou seja, desenvolver doenças que a incapacite para o trabalho ou para o convívio social, o que acaba igualmente por perturbar sua família, colegas de trabalho ou de escola.
Mas como desculpar-se? Numa referência ao título deste artigo, a melhor forma de poder lidar com sentimentos de culpa é utilizando-se do perdão. Perdoar não significa esquecer, sugere, pois, uma transformação de sentimentos. Não sendo exclusivamente uma palavra de cunho religioso, perdoar, neste contexto, pode assemelhar-se ao termo aceitação, referido por Carl Gustav Jung como uma poderosa forma de transformação. É em aceitando que somos falhos que poderemos buscar a reparação daquilo que entendemos como errado, possibilitando assim, que se amenize o sentimento de culpa. Quando aceitamos também, que outros podem errar para conosco, fica mais fácil a compreensão e a solução dos problemas decorrentes. Por fim, se quando irritados com nossas falhas dirigimos certa agressividade a nós mesmos, com a aceitação (perdoando-nos), perceberemos que é possível vivermos sem culpa, ou, pelo menos, minimizando nosso estado de sofrimento.
César A R de Oliveira - Psicólogo
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