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sexta-feira, 3 de junho de 2016

Autoconhecimento

Certo dia, em um encontro, foi pedido a alguém que se apresentasse ao grupo. Ela disse: “Meu nome é X, sou profissional de tal área e...”  - quando foi apressadamente interrompida pelo interlocutor: “Foi você quem escolheu seu nome?” – perguntou-lhe, dizendo – “Você não é o nome que te deram, nem a profissão que exerce, quem é você?” . O constrangimento por não conseguir se apresentar era evidente: sexo, idade, filiação, endereço, preferências, nada servia para justificar a tentativa de apresentação. A questão é milenar; o oráculo de Delphos já propunha o conhece-te a ti mesmo. Quem pode afirmar que efetivamente tem grande conhecimento de si? O autoconhecimento é algo concluso ou passamos uma vida toda nos descobrindo? Para que serve?
            Há autores que afirmam ser este o maior desafio de nossa vida. Isto exige muito esforço, disciplina e maturidade para olharmos (e podermos reconhecer) em nós aquele lado que muitas vezes desconhecemos ou não gostamos de mostrar a ninguém, nem a nós mesmos. O grande psicólogo Carl G Jung já teorizava sobre aquilo que denominou de “Sombra”, fixada nas entranhas do inconsciente mas sempre pronta para a qualquer momento emergir, surpreendendo a todos. Um processo saudável de autoconhecimento implica em reconhecermos nossas sombras e aceitarmos-las, pois, por mais absurdas que pareçam, são partes nossas! 
            Nas terapias, é muito comum manifestações que indiquem um sujeito que quer sair de um emprego, de um relacionamento afetivo, de uma cidade, como se isto pudesse afastar de si um mal estar que em muitas das vezes não está no ambiente, no outro, mas em si mesmo. Está sentenciado: para onde ir, sua essência (o Ser) irá junto. Quando temos a oportunidade de nos conhecermos melhor, as relações com o mundo ficam menos sofridas, o choque com a realidade não é tão ameaçador, percebemos que nossas imperfeições não são muito diferentes das dos outros.  E o que acontece? Passamos a nos sentir mais seguros, não dando muita importância aos erros, evitando com isto o medo, porta de entrada para uma série de perturbações psíquicas e emocionais.
            De diversas maneiras estudos teológicos, psicológicos ou filosóficos tratam das ações do pensamento sobre o ser humano. Muitos quadros de sintomas psicopatológicos (a grosso modo chamados de doenças) referem-se sobre pensamentos, sejam delirantes, depressivos, invasivos, mágicos, de suicídios etc... Daí que praticar o autoconhecimento implica, necessariamente, em realizar mudanças de hábitos, em exercitar o bem pensar: se os pensamentos - produções próprias - são tão influentes em nossas atitudes e tomadas de decisões, devemos ter o cuidado de produzi-los com a melhor qualidade possível.
Assim, se pudermos considerar que um pensamento é um diálogo interno silencioso (mas muito poderoso), uma manifestação de nossa psique, quanto mais formos honestos e coerentes, maior poderá ser a garantia de que nossas atitudes nos encaminhem para um viver melhor, com menos conflitos e com maior sensatez. Mas esta boa qualidade de pensamentos só será possível quando estivermos prontos para respondermos à pergunta sobre quem somos, sem embaraços.

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