Na prática terapêutica um tema tem sido recorrente nos últimos tempos: o cliente relata algum mal entendido ocorrido em postagens em grupos de “relacionamentos” e que alguém ficou ofendido e saiu do grupo; o final da história todo mundo conhece... Seja a finalidade do grupo do aplicativo para integrar colegas de trabalho, de condomínio ou familiares, o ponto em comum é que de certa forma colabora para que se mantenham os contatos, pois, mesmo não postando algo, pode-se ler as manifestações dos demais. Um edifício de mais de oitenta condôminos que tinha em suas assembleias semestrais não mais do que quinze pessoas, agora anda em alvoroço com o grupo criado e as trocas de farpas entre muitos que, sequer alguma vez estiveram presentes em reuniões para, cara a cara, ou, olhos nos olhos, poderem dialogar. E o mesmo acontece entre familiares quando alguns residem até mesmo em outras cidades: o que poderia servir para integração acaba por prestar-se antagonicamente.
Não sou avesso às tecnologias, mas sou um usuário que procura fazê-lo com bom juízo, tirando o melhor proveito. Quero dizer que a falta de diálogo tem gerado muitos sofrimentos sem que alguns sequer percebam. Alguém me disse: “... mas eu mandei uma mensagem, ele que não leu!”. Isto não é diálogo, é simplesmente escrever um bilhete e manda-lo virtualmente, não substitui a presença, o aperto de mãos, um abraço, o estar à frente de um sorriso (ou até mesmo de uma cara carrancuda). A capacidade da comunicação e as propriedades da fala e da escuta atenta são ótimas ferramentas quando bem utilizadas. As emoções que surgem nos encontros (sejam de alegria e prazer ou de tensão e medo) todas, nos constituem e nos amadurecem, servem de aprendizado para que repassemos aos nossos filhos, irmãos, amigos, colegas, elas nos transformam.
Mas como conviver nesta cibernética sem esquecer nosso lado humano? Simples: tendo a todo o momento a consciência de nossa humanidade. Atitudes de tolerância, compaixão, compreensão, aceitação, são importantes exercícios para nosso bem estar. Mas está pensando em praticar isto com os outros? O que estou propondo é que primeiro tenha esta experiência consigo mesmo: seja mais tolerante com seus erros, tenha mais compaixão com seus sofrimentos (eles estão ai para que sejam pensados, repensados e transformados!); mais compreensão ao lembrar-se de que nem todos pensam como você, e, finalmente, - dito popular - a aceitação de que aquilo que não puder ser remediado, remediado está.
Conviva virtualmente com estes aplicativos, mas apenas o necessário, pois excessos de grupos não nos tornarão mais aceitos, mais queridos, pelo contrário, tomarão muito de nosso tempo dificultando que olhemos para nós mesmos. Agora, não seria interessante – mesmo que pelo Whats App – convidar um amigo para um encontro, um cafezinho, um tempo para efetivamente, conversarem? Melhore suas relações, melhore a si mesmo, aproxime-se!
César A R de Oliveira – psicólogo
saude_mental@outlook.com
Grande César! Boas dicas e reflexão.
ResponderExcluirObrigado pelo prestígio Alfredo. Um abraço!
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