Leio
que o prefeito de Porto Alegre posta em rede social uma foto de seu solitário jantar
(algo requentado do meio dia) com a alegação de que é resultado de sua vida de
solteiro. Daí, uma deputada retruca chamando-o de ultrapassado, e a tréplica
vem com mais impropérios da parte dele. Alguém já reparou como siglas
partidárias, times de futebol, questões de gênero (dentre outras) suscitam
trocas de farpas, falta de respeito mútuo e até mesmo – indiretamente – falta
de respeito com quem acaba lendo aquilo que é jogado na internet?
Acontece
que nos preocupamos com a violência dos assaltos (por que a do trânsito virou
rotina) e banalizamos esta agressão verbal/visual que circula aos milhares em
nossos computadores ou smartphones. Na semana passada, um amigo de longa data (e
que continua sendo meu amigo), postou em grupo de whats app uma foto de um
carro forte explodido em assalto e expondo parte de um corpo humano queimado,
sob a alegação de “alertar” seus amigos de grupo sobre a onda de violência que
nos assola. Ora, violência ele cometeu ao repassar tal aberração, e pude
dizer-lhe isto sem constrangimentos justamente por prezar nossa amizade.
O
mundo muda quando eu mudo, afirma um mantra oriental; a Paz no mundo começa em
mim, diz o poeta. Cada vez que divulgamos uma agressão devemos ter consciência
de que ela já agiu primeiro em nosso pensamento, depois, na forma como a
manifestamos. Para algumas pessoas não basta o desconforto sofrido com o
impacto da notícia, é preciso repassá-la! Agem como quem com um balde de tinta sai a
caiar cercas, vão respingando parte daquilo que carregam pelo caminho. Agir
assim agrava a realidade do acontecido, pois enseja reprováveis reações humanas
que acabam por gerar outras manifestações de sentimentos inferiores de revolta
ou de indignação, as quais, não raras vezes, resultam em novas atitudes de
violência. Um ciclo aparentemente interminável.
É
preciso dar um basta a isto, precisamos de pessoas que falem também de coisas
boas; somos bons, somos o resultado da dedicação de pais e de familiares que
nos cuidaram, do contrário, nenhum ser humano sobreviveria ao nascimento sem
abrigo, sem alimentação ou afetos. Devemos ter o cuidado de não sermos
contaminados por noticiários que muito além da intenção da informação, carregam
um sensacionalismo barato com o único fito de gerar audiência, e,
consequentemente, lucros.
Naturalmente,
o convívio em sociedade nos dias de hoje nos exige cautela, prudência, mas não
significa necessariamente que precisamos abrir mão do projeto de vida que
queremos: todos almejamos felicidade, paz, bem estar, convívio amoroso em
família e fraterno com os amigos. Vivenciam estes momentos, aquelas pessoas que
- segundo uma amiga e conselheira psicóloga - têm caráter forte e conseguem
aprofundar a busca da sua realidade, descobrindo-se, autoencontrando-se.
Poder
adotar um comportamento de autenticidade, preferindo seguir uma linha de
coerência de atitudes, fará com que, em refutando a violência, não a
pratiquemos e nem a repassemos. Para isto, é necessário que sejamos mais amorosos,
e o caminho, com certeza, começa por olharmos para nós mesmos.
César A R de Oliveira – psicólogo
Whatts app 999 81 64 55
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