Às
vezes nem nos damos conta: ligamos o carro e, apesar do trânsito no qual todos
os dias morrem tantas pessoas, dirigimos com total falta de atenção nos expondo
a riscos desnecessários. Mas também há ocasiões em que esquecemos onde “guardamos”
algo, outras em que não lembramos de um compromisso, ou a pior de todas: esquecemos
de nós mesmos. Mas onde estamos que não conseguimos encontrar-nos? A expressão
“estar ligado no automático” decorre de uma série de inventos que após uma
programação funcionam sem que precisemos estar vigiando-os. Programa-se uma
máquina de fazer pão para ao acordarmos poder saboreá-lo quentinho; uma máquina
para lavar roupas despreocupando-se em colocar sabão ou amaciante durante sua
operação, ou ainda, outra infinidade de eletrônicos que em muito nos auxiliam. Não
há dúvidas de que isto é muito bom.
Somos
humanos, mas parece que alguns se esquecem disto, pois, não raro ouvimos quem
diga ter-se “programado para...” como se máquina fosse. A proposta de “nos
desligarmos” (insistimos em sermos máquinas) é no sentido de que possamos
perceber como muitas coisas poderiam ser mais bem aproveitadas se tivéssemos
consciência plena do momento em que vivemos. Um amigo escreveu que o
automatismo de algumas pessoas acaba por afastá-las da essência da vida: viver,
amar, sentir, sorrir, chorar, ou seja, distanciando-as de seus sentimentos. Por
mais avançada que seja a tecnologia, nenhuma inteligência artificial pode ser
provida de afeto, de carinho ou de ternura. Viver implica em assumir riscos;
amar, em ser rejeitado; sentir, em encontrar a insensibilidade nos outros... Qualquer
que seja o sentimento pelo qual estejamos passando - agradável ou não - não convém
andarmos por ai “no automático”, pois é ruim para nós e para os outros. Este
viver imprudentemente, “com a cabeça nas nuvens” pode ser interpretado como uma
forma de fuga da realidade que nos afasta daquilo que somos e do que deveriam
ser nossos objetivos existenciais.
Já
lembrou-se em dar bom dia ao porteiro do edifício? Em segurar a porta do
elevador para quem está atrasado? Em ceder o banco para uma pessoa mais velha
ou mesmo outra, que perceba necessitar mais do lugar do que você? Atitudes
desprovidas de segundas intenções, não querer ser agradável a todos
(principalmente à custa de desagradar-se), permitir-se rir, levam-nos à
harmonização do ego com o Self, nosso eu profundo, de formas a propiciar a
autorrealização livre de conflitos. Eminente psicóloga noz diz que o ser
humano, “... vem perdendo contato com a terra, com a fraternidade, em face dos
conflitos de opiniões, das imposições do intelecto sobre o sentimento, da
robotização que transforma o ser humano em máquina, a repetir atividades que
lhe destroem a capacidade de criar, de enriquecer-se de novos valores
espirituais.”
Andar
sem automatismo significa ter possibilidades de escolhas, ter livre arbítrio
para a tomada de decisões e consequente triunfo sobre alguns arquétipos
aflitivos. Um esforço desprendido nesta direção requer firmeza de atitudes e uma
presença de espírito que terá repercussão sobre nossa autoestima, fortalecendo-nos.
Não obstante, é um convite para a reflexão de que construímos nossas próprias
realizações, e que o sucesso ou o fracasso nada mais são do que resultados de
nossas atitudes e/ou omissões.
Poderemos
usufruir melhor de nossa consciência estando mais presentes naquilo que estivermos
fazendo, saboreando, admirando, vivendo na plenitude do momento. Ficaremos
satisfeitos ao percebermos que sabemos viver bem.
César A R de Oliveira
Psicólogo – CRP 07/13.695
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