Em setembro, no dia seguinte à chegada da primavera,
esteve em Passo Fundo a monja Coen Sensei, a quem tive a oportunidade (bem como
os demais que estavam no auditório lotado do IMED) de ouvir em palestra e com
isto poder levar para casa ressonando em minha mente uma série de reflexões.
Para muitas pessoas é inevitável a associação da palavra monge a budismo, como
se a temática devesse ser unicamente religiosa. Na ocasião, dentre muito do que
foi dito, fixei-me na preocupação dela com relação à imigração em massa que
ocorre neste momento na Europa. Sobre o assunto, a monja nos levou à reflexão
humanitária que o caso requer. Movimentos migratórios povoaram o mundo formando
civilizações, propiciaram miscigenações raciais, religiosas e culturais,
afinal, somos o resultado disto. Se na região sul do Brasil estão presentes descendentes
de alemães e de italianos, no centro sul há a maior colônia japonesa do mundo
fora do Japão, e em muitas regiões litorâneas há a predominância de afrodescendentes
ou de portugueses, por exemplo. Dados oficiais de 2014 contabilizam a entrada
recente no Brasil de cerca de 50 mil imigrantes haitianos, os quais, na
tentativa de superar todas as barreiras preconceituosas existentes, esforçam-se
para ter aqui uma vida melhor e mais digna do que aquela no país de origem.
Há um termo muito antigo denominado xenofobia e que serve
para designar formas de aversão ao estrangeiro, quer em repulsa, em atitudes ou
mesmo por preconceito. Como disse a monja, “migrar não é fácil”... Há uma incerteza com relação ao futuro, há a
necessidade de adaptação à cultura e ao idioma, além da superação da natural
barreira - ainda que não explícita - da rejeição. Mas o que pode levar a alguém
a não acolher um refugiado de guerra, um retirante do campo, em suma, não estender
a mão a um necessitado? (lembrem-se de que há migrações internas no Brasil
também). Se há um coro universal clamando por justiça social, paz, amor,
fraternidade, qual o nosso papel neste momento, apenas esperar ações dos
governos? É coerente estarmos sensíveis/comovidos ao que assistimos – à
distância - pela televisão, enquanto permanecemos em estado de inércia e de
indiferença aos muitos necessitados à nossa volta?
Precisamos de mais pessoas que nos sensibilizem a olhar
para o sofrimento humano, a nos indicar a direção do bem, da fraternidade, do
amor ao próximo. Precisamos da mídia, de novelas e de noticiários que nos
desacomodem acusando tais problemas e que nos deixem desconfortáveis. Talvez
isto possa nos lembrar também que podemos ser pessoas ativas em alguma causa, que
o nosso exemplo pode mobilizar a outros, contagiar um grupo de amigos, uma
associação, uma classe, e dai sim fazermos a diferença. Gosto de uma música de
Nando Cordel onde diz que a Paz no mundo começa em nós.... Não dá para nos
sentirmos em paz com tantas coisas desta ordem acontecendo à nossa volta, mas
podemos começá-la.
César A R de Oliveira – psicólogo
saude_mental@outlook.com
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