“A
noção tradicional de que, para uma criança, basta a mãe caiu por terra” – Martha
Mendonça - jornalista
Em mês de
comemoração do Dia dos Pais, congratulo-me com todos os que têm justificados
motivos para comemorações, mas escrevo, em especial, àqueles pais que nesta
ocasião sentem um aperto no peito e não veem alegrias na data. Refiro-me aos
que estão distantes ou separados de seus filhos.
Duas recentes
produções cinematográficas brasileiras promovem fortes discussões sobre as
relações de pais e filhos, mais precisamente, sobre a figura masculina: A morte inventada (disponível em DVD) do
cineasta carioca Alan Minas e Nada sobre
meu pai de Susanna Lira (www.nadasobremeupai.com.br). Na primeira, a
abordagem se dá sobre os sentimentos de pais que após a separação conjugal
ficam distantes de seus filhos, enquanto que na segunda, a temática versa sobre
as consequências de não se ter registrado o nome do pai na identificação dos
filhos, ou seja, como vivem crianças que sequer sabem quem são seus pais ou
então, quando sabem, de seus sofrimentos por não terem por eles reconhecida
esta condição.
Estudos da
área da psicologia em várias partes do mundo apenas reforçam o que pode ser
percebido na prática, que crianças que
contam com o envolvimento dos pais no dia-a-dia têm maior autoestima, aprendem
melhor e apresentam menos sinais de depressão. A
psicóloga Vera Resende, da Universidade Estadual Paulista, chegou a conclusões
semelhantes após acompanhar, por três anos, crianças com problemas emocionais: "Em 80% dos casos, elas não estão
doentes. Só expressam dificuldades nas relações com a família, sobretudo em
relação à ausência paterna", diz. Muitos distúrbios como
hiperatividade, insegurança, dificuldades de relacionamentos e depressão podem
estar vinculados à ausência da figura paterna na formação e na educação
infantil, porém, isso não significa que os pequenos criados somente pela mãe
estejam necessariamente condenados a transtornos emocionais. Fundamental é o
desempenho da função paterna, a qual pode ser realizada parcialmente pela
própria mãe ou então por um avô, um tio ou aquele velho amigo da família, muito
embora desta forma sempre vá ter suas limitações.
Não obstante a existência de dados indicando que no Brasil após a separação
do casal 95% das mães detêm a guarda dos filhos, tal fato não significa que os
pais aprovem o rompimento de laços afetivos como consequência da dissolução
familiar. Mesmo que venham a constituir outra família, muitos pais gostariam de
poder manter suas relações filiais e as trocas de afetos com seus filhos.
Por outro lado, no documentário de Susanna, o problema focado em filhos
que desconhecem seus pais transcende esta ausência e leva-nos a refletir sobre
o quanto poderá ficar comprometido o desempenho do papel de pai daquele que
nunca (ou pouco) o teve ao seu lado. Por mais que alguém venha a desempenhar
tal figura em aspectos de afetividade, a rejeição do reconhecimento da
paternidade biológica ficará como uma marca.
Ainda que os dois filmes dos quais me refiro estejam aparentemente em
situações de oposição, tanto o pai que deseja o contato com os filhos (mas que
esteja sendo por algum motivo tolhido) quanto aquele que sequer reconhece
qualquer vínculo afetivo para com a criança que gerou, têm influências sobre o
futuro de seus rebentos. Sentimentos de vergonha pela condição de ignorância da
paternidade são frequentes, não raramente algumas pessoas ficam constrangidas
no preenchimento de algum protocolo quando lhes pedem “o nome do pai”. Mais
grave ainda foi a descoberta de Susanna ao elaborar seu documentário de que
cerca de 80% de jovens infratores brasileiros não tinham o nome do pai na
certidão, numa afirmação de o quanto é importante a existência de uma figura paterna de
qualidade para pelo menos se buscar um saudável desenvolvimento psicossocial.
Um interessante livro infantojuvenil sobre esta temática é de autoria de
Walcir Carrasco e intitula-se A palavra
não dita, o qual, se lido pelos pais, poderá auxiliar em muito na
compreensão da importância de seus papéis, visto sob a ótica dos filhos.
César AR de Oliveira – psicólogo
Nenhum comentário:
Postar um comentário