Na
última quinta feira dia 20 de março (2014) em Porto Alegre duas jovens
universitárias morreram atropeladas por ônibus enquanto deslocavam-se em suas
bicicletas, e, no domingo à noite, outro ciclista foi atropelado na capital,
mas sobreviveu. O fato de acontecerem estas duas mortes em um intervalo inferior
a oito horas, chamou a atenção de mídia, pois, no momento em que até mesmo em
cidades menores o trânsito fica mais caótico e estressante e que as bicicletas
ressurgem como possibilidades “sustentáveis”, o desrespeito à vida continua.
Mais
uma vez poderemos ouvir o chavão “banalização da morte”. Morrem pessoas todos
os dias, morrer é natural, assim como achamos natural também ter pressa no
trânsito, cometer pequenas faltas se entendermos justificáveis (incluam-se
ignorar faixa de segurança – local onde uma das ciclistas foi atropelada -
passar ao sinal vermelho, estacionar em locais não permitidos, calçadas,
esquinas, mesmo que implique em dificultar a visibilidade e a segurança dos
demais). Também é normal atender ao telefone, ler e até mesmo enviar mensagens
de texto enquanto se dirige! Só não achamos normal quando quem morre é alguém
que nos é próximo, e, no ano passado a capital registrou oito mortes de
ciclistas no trânsito, nenhuma nos disse respeito.
No
velório, a fala em entrevista da amiga de uma das ciclistas mortas nos é muito
peculiar; disse: “as pessoas [que dirigem] não tem educação mesmo”... Mas, e se
esta moça dirige (ou certamente algum familiar seu o faz), ela considera-se também
sem educação? Se, algum familiar, o que faz para corrigi-lo? O fato é que
tendemos sempre a apontar no outro o problema. No protesto realizado na sexta
feira à noite, centenas de ciclistas bloquearam o cruzamento de um dos locais
de acidente e manifestaram suas indignações com a falta de respeito no
trânsito, e, chamou-me a atenção de que a tônica da manifestação era pela
humanização do trânsito.
Como
psicólogo com especialização em Psicologia do Trânsito escrevo agora sobre o
óbvio, a teórica composição do triângulo do trânsito, a saber, O SER HUMANO, o
veículo e as vias. Desnecessária a
observação de que o único ser pensante neste contexto e que influencia nos
demais somos nós, a quem cabe toda e qualquer possibilidade de mudança para um
trânsito seguro e, efetivamente humanizado. A observação de um repórter que
esteve no local de protesto é digna de nota. Escreveu: “A manifestação, porém, não teve características de um protesto
carregado de queixas e reivindicações. Em verdade, a ação foi envolta por
contornos de emoção, pedidos de humanidade, paz e harmonia”.
Cada
um de nós pode fazer algo por um trânsito mais humano: como pedestres,
ciclistas ou condutores de veículos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário