Gosto da reflexão que nos sugere o
antropólogo Roberto Crema quando cria o termo “Normose” definindo-o como a patologia
da normalidade. Segundo ele, “O normótico
é aquele que se adapta a um sistema doente e faz como a maioria...”. E o
que isto tem a ver com o Dia das Mães? Pois bem, o universo feminino sempre
teve uma parcela de mulheres que nunca foram mães, quer sejam por questões de
ordem biológica (às vezes impossibilitadas pelo marido), por condições de saúde
própria ou por imposições culturais, e, estima-se, que 20% de mulheres
compunham este grupo. Na modernidade, o que mais influencia para tal pode ser a
liberdade de escolha em não ser mãe, às vezes, por priorizar a carreira
profissional, os estudos, ou simplesmente como forma de viver com mais
liberdade. Já não impera tanto a pressão cultural, a normose de que toda a
mulher tem de casar e de ter filhos. Há até um neologismo inglês cunhado para
esta nova realidade: childfree, o qual,
numa tradução ao pé da letra, significaria livre de filhos.
Concordâncias (ou não) à parte, o
fato é que há mulheres que têm a consciência de que a maternidade implica em
responsabilidades que transcendem a si, e, mesmo com os avanços da medicina com
técnicas de fertilização, ou ainda, com as opções legais de adoção, optam por
não serem mães. Mas isto não as tira da condição de filhas e de quem tem um
compromisso filial e de reconhecimento às suas genitoras; não as afasta de
amigas que dividem-se entre trabalho, academias, supermercados e escolas
buscando seus filhos, e, muito menos, das condições parentais de tias,
madrinhas ou cunhadas que transmitem seus carinhos aos pequenos.
É preciso darmo-nos conta de que as mudanças
sociais em diferentes culturas ocorrem a todo o instante e nos mais diferentes
aspectos. Se no Brasil, no final da década de 60, a mulher tinha em média seis
filhos, na década de 70 este índice baixou para 4,5 e, segundo dados do IBGE de
2010, o valor atual está em torno de 1,86; nem mesmo o normótico e ideal “casal
de filhos” já é possível quando a maternidade ruma para a média de um único
filho, o que implica necessariamente em casais sem filhos, já que se trata,
repito, de uma média por casal.
Longe de deixar a efeméride de lado,
o propósito deste artigo era lançar luzes a uma reflexão de que, se por um lado
há todos os motivos para parabenizarmos as mulheres-mães por tudo o que
significam para seus filhos, não seria justo desconsiderarmos aquelas que,
mesmo por não terem filhos, não são menos importantes nesta data: quantas
mulheres profissionais não são mães e nem por isto deixam de dedicar-se aos
filhos dos outros? Aos nossos filhos? Parabéns a todas as mães e às mulheres
que exercem esta função nesta data, mesmo na condição de não serem mães...
César A R de Oliveira – psicólogo
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