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quinta-feira, 14 de abril de 2011

O silêncio e a psicoterapia



“Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro ângulo de nós mesmos.” (Lya Luft)


Como é importante termos um momento totalmente nosso. Na correria e competitividade do dia-a-dia fazemos de tudo pelos outros e por nosso trabalho, e, ao final, deixamos de realizar aquilo que havíamos planejado para nós mesmos. Quem já não acordou-se na madrugada, perdeu o sono, e sentiu-se invadido por uma série de problemas a serem resolvidos?
Refiro-me à frase de Lya Luft (supracitada) pois a mesma pode muito bem ilustrar uma sessão de psicoterapia. É no silêncio propício da reflexão que encontramos coisas por vezes mal resolvidas, não ditas, e que ao lhes darmos novos significados através da palavra passamos a enxergar outro ângulo de nós mesmos:  “Porque não pensei nisto antes? Porque não agi assim? Era óbvio!”.  E o quanto nos é caro admitir algo, admitir que poderia ter sido mais tolerante, que aquele grito teria sido dispensável, que o mau humor de nossa companheira (o) não era somente dela, mas era um reflexo nosso!
O psiquiatra Irvin Yalon em sua obra Quando Nietzsche chorou, relata um encontro fictício entre o filósofo e Joseph Breuer - médico com quem Freud estabeleceu forte aliança nos primórdios de suas teorias - de onde se podem extrair valiosas reflexões. Em uma passagem cita: “ Breuer se maravilhou com o poder de sedução do tratamento através da conversa (...) Era estimulante desabafar-se, compartilhar todos os seus piores segredos, contar com a atenção exclusiva de alguém que, na maior parte do tempo, entendia, aceitava e parecia até perdoá-lo. Muito embora algumas sessões o fizessem sentir-se pior, ele inexplicavelmente ansiava pela próxima.” 
Ora, se na atualidade, onde o sujeito social que somos (aquele que vive pelo e para o trabalho) constantemente sufoca o sujeito psíquico - o desejante que nos habita e que nos move em direção à vida – precisamos conjugar esforços e partir em direção ao equilíbrio capaz de nos assegurar uma plena Saúde Mental. E é possível associar saúde, estar bem, com felicidade.
E se a essência da vida é a busca pela felicidade, quem é capaz de ser feliz com seus medos e segredos a espezinhar a vida, a limitar as relações familiares, a não permitir uma decisão mais ousada no trabalho ou nas relações amorosas? É preciso primeiro enfrentar-se (e ao próprio silêncio) para estar melhor preparado para a vida. Não é vã a afirmação Socrática “Conhece-te a ti mesmo” como uma máxima filosofia de vida, todavia, é preciso muito exercício para nos vermos sob outro prisma.

César A R de Oliveira
Psicólogo
 

2 comentários:

  1. Muito bom Cesar. A importância do silêncio é quase que vital.É a descoberta de nosso "eu". Eu recebi uma mensagem por e-mail que fala do silêncio e achei apropriado comentar aqui.
    Apenas uns trechos.
    "Precisamos do silêncio para ouvir os sons de nossa alma..
    Até na solidão o silêncio é importante..pois tem companhias piores.
    A luz, a vida e o espírito atua com uma aparente ausência....é o silêncio.
    O sol nasce e se põe em profunda quietude....e por vezes nem notamos sua presença indispensável...
    Deus que é supremo, age com tamanho silêncio...
    Até a morte chega de mansinho,e como uma hábil cirurgião, rompe os laços que prendem a alma ao corpo.
    Então em respeito a ti, eu me coloco em silêncio, para que possas ouvir teu interior..que é este o objetivo.
    Adorei teu blog. Virei passear por aqui mais vezes.

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  2. ...e quando o silêncio faz barulho?
    ...devo mesmo assim silênciá-lo?
    ...e quando o silêncio é mal compreendido?
    ...e quando a guerra é declarada silenciosamente?
    ...e quando a convivência se transforma em um enorme labirinto, onde cabeças se batem no mesmo ponto, onde perde-se a saída e até mesmo o porquê da entrada.

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