logo

logo

sexta-feira, 2 de março de 2018

A Virtude da Raiva

Dias depois de ter escrito o artigo anterior sobre emoções, acabo de ler um livro recentemente lançado cujo título pego emprestado para este texto*; O livro foi escrito por Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi, e traz reflexões das lembranças de um breve período em que ele, quando criança, acompanhou durante dois anos o avô em suas atividades na Índia. Com o subtítulo de “...lições espirituais de meu avô” é possível emocionar-se com a simplicidade da mensagem daquele que foi um grande pacifista no século passado (cinco indicações ao Prêmio Nobel da Paz sem jamais tê-lo recebido), inspirador de Marthin Luther King e Nelson Mandela, e responsável por trazer a dignidade a milhares de pessoas na Índia e no mundo.
Quando as pessoas nos procuram para a psicoterapia está quase sempre implícito o pedido para auxiliar a extirpar ou a amenizar um sofrimento, às vezes, um apelo para a paz interior. Em algumas ocasiões a queixa está voltada à insatisfação num relacionamento, por outras diz respeito ao emprego, às dificuldades da situação financeira, dentre tantas. Mas o que fazer ante tantos e diversos problemas que, convenhamos, “dá raiva” só de pensar?
Raiva é uma das emoções básicas que é muito reprimida. Desde cedo ouvimos que devemos controlar a raiva, que ela é um sentimento ruim, que não devemos ser raivosos. Raiva é tão inato quanto alegria e medo, mas assim como a tristeza (outro sentimento que, dizem, devemos ter cuidado em não manifestá-lo) não é bem visto.  Gandhi, numa conversa com seu neto - que com frequência brigava com outras crianças na rua - lhe disse: “Use a raiva para o bem. A raiva, para as pessoas, é como o combustível para o automóvel. Ela nos dá alegria para seguir em frente e chegar a um lugar melhor. Sem ela não teríamos motivação para enfrentar os desafios. A raiva é uma energia que nos impele a definir o que é justo e o que não é.”
Gosto do conceito de raiva como energia, pois a apatia, o desânimo ou a passividade diante de um obstáculo, nada mais são do que total falta de disposição para o enfrentamento. Então, considerando a raiva como uma forma de energia, que a aproveitemos de maneira positiva e a nos auxiliar a sair das situações de sofrimentos; que seja a força da qual necessitamos!
O domínio da utilização da energia do raio lazer pode se prestar à cura, ao progresso, porém, mal manipulado, torna-se arma poderosa e avassaladora. Igualmente, para utilizarmos nosso poder interior é que surge a necessidade de autoconhecimento: quanto mais soubermos sobre nós, melhor poderemos empregar a energia da raiva em prol de nosso crescimento pessoal.  Daí a importância de Gandhi em nos ensinar que é possível encontrarmos virtude na raiva, sua caminhada pela paz foi a de não revidar com violência, foi um exemplo de atitudes sensatas e inteligentes. Com atitudes serenas e equilibradas estaremos muito próximos de conciliar emoção e razão, e, com isto, o convívio com familiares, amigos e colegas de trabalho poderá ser mais harmonioso.
É claro que as atribulações de Gandhi foram muitas, ele sofreu humilhações, foi preso arbitrariamente e morreu assassinado por defender a Paz. Simbolicamente, encontraremos muitas dificuldades em nós mesmos ao tentarmos este crescimento, mas não devemos esmorecer, todos temos virtudes, basta utilizarmo-las.

César A R de Oliveira

Psicólogo – whats app 99981 64 55

Nenhum comentário:

Postar um comentário