Pois o mês de março registrou a morte do físico inglês que deixou um grande legado para a ciência. Acredito que a maioria das pessoas, assim como eu, tiveram a atenção voltada para o “pequenino” muito mais pelo exemplo de superação a uma grave doença degenerativa cujo diagnóstico de sobrevida era de dois anos (mas que resultaram em outros cinquenta e cinco de muita produtividade), do que por sua contribuição à física.
O filme “A teoria da tudo” - inspirado em sua autobiografia - dá uma real noção de como um jovem inteligente passa a sentir os efeitos da perda de suas funções motoras e da fala, e, a partir dos 21 anos de idade decai a uma condição de absoluta dependência, todavia, com sua mente permanecendo altamente produtiva. Tamanhas dificuldades que transformaram radicalmente sua vida não o impediram de casar-se, ter três filhos e a continuar seu trabalho produzindo sua teoria.
Quero agora ligar esta lição de vida a assuntos que com frequência percebo nas sessões de psicoterapia. Algumas pessoas, de posse de todas as funções físicas e mentais, com recursos de família, de trabalho e de amigos, por vezes, esbarram em dificuldades que as imobilizam de tal forma que seguir a vida torna-se um grande desafio. Relacionamentos amorosos complicados, dificuldades financeiras, problemas em família ou no trabalho, desmotivações de toda a ordem acabam por adoecer muitas destas pessoas limitando-as.
Em uma bela canção ouvimos: “Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser feliz...” e é desta forma que penso, pois temos o direito à felicidade, ainda que com muito trabalho. Um mesmo fato que pode derrubar alguém pode servir de impulsionador para outro; a doença que leva um à condição de vítima leva àquele que a supera a agradecê-la por oportunizar seu crescimento. Somos diferentes em nossas atitudes justamente por que alguns descobrem em si recursos e/ou formas de enfrentamento das dificuldades, enquanto outros não. Aqui, partimos para algo que efetivamente pode propiciar uma psicoterapia bem encaminhada: o autoconhecimento. Ao conhecermos nossas potencialidades fica mais fácil avaliar sobre o quanto podemos fazer ou então, sobre o que precisamos aprender para tal.
Acredito que a extrema dificuldade enfrentada por Stephen Hawking e a sua não aceitação – não à doença, mas para a condição de “coitado” – foi a grande motivação para que pudesse realizar tanto, e, mesmo nós que não temos afinidades com a física, podemos agradecê-lo pelo exemplo de coragem, determinação e tantos outros adjetivos que o deixarão marcado na história da humanidade. Mais de meio século preso a uma cadeira de rodas e a um corpo não o impossibilitaram de expandir-se mentalmente pelo universo que tanto estudava. “Sem imperfeição, eu e você não existiríamos”, dizia.
César A R de Oliveira