Este
é o título de um dos tantos livros de autoria do psiquiatra paulista Flávio
Gikovate, falecido no final do ano passado e que contava com décadas de
experiência psicoterápica. Se a felicidade é o desejo de todo o ser humano,
encontrá-la no amor, a relação mais próxima com o outro, é a realização total!
E o convívio com a pessoa amada (ou com aquela que pensamos amar) é uma tarefa
para a qual nem sempre estamos prontos e que vem à baila nas sessões
psicoterápicas com muita frequência.
Se
amar alguém é da condição humana, a sua forma de manifestação vem mudando
juntamente com o passar dos tempos: Como amamos nos dias cibernéticos de hoje? Em
rede social, uma “curtida” de seu amado à outra pessoa, significa o quê? Trocas
de confidência entre aqueles que pessoalmente nunca estiveram juntos, pode? É
traição? Dá para continuarmos nos binômios “ativo/passivo”, “provedor/provido”
ou “do lar/do trabalho”? Claro que não, novos tempos pedem novos paradigmas! A
psiquiatra paulistana Carmita Abdo acaba de atualizar dados de uma pesquisa sua
feita há oito anos: na primeira ocasião o índice de mulheres que responderam
afirmativamente dizendo fazer sexo apenas por atração foi de 43%, enquanto que
nos resultados do ano de 2016 o valor subiu para 57%, já mais do que a metade
do universo feminino pesquisado. Sabem a qual paradigma isto quebra? Aquele, de
dizer que o homem é mais atraído a relacionamentos afetivo por interesse sexual
enquanto que a mulher fica na defensiva por ser mais romântica. Gigovate diz
que isto fora uma invenção sociocultural do passado - quando engravidar antes
do casamento desqualificava a mulher - de que apenas por romantismo (e não por
interesse sexual) ela aproximava-se de seu pretendente. O fato é que Abdo
entende o momento como sendo o da segunda grande revolução sexual feminina (a
primeira foi a da pílula, que separou sexo reprodutivo do erótico), aquele no
qual amor e sexo não precisam andar necessariamente juntos e que as mulheres
podem procurar relacionamento sexual quando desejarem, e não somente quando
estiverem apaixonadas.
Amar,
nos dias de hoje, requer novo posicionamento uma vez que amor romântico é
aquele que difere do ficar, do pegar ou de qualquer neologismo contemporâneo. É
possível ter um relacionamento sério sem morar sob o mesmo teto, sem precisar
juntar os meus, os teus e quem sabe ainda acrescentar “os nossos” filhos. Se novas
formas de amar surgiram, não nos esqueçamos do amor nas relações homoafetivas, uniões
igualmente importantes e parcialmente amparadas pelo Estado mas que ainda
carecem de maior aceitação de todos. Foram tantas as modificações nos últimos
anos que há pessoas sofrendo por não encontrar alguém para conviver, enquanto
que há outros que sofrem por estar com alguém ao seu lado, mas sentindo-se
desorientados sem saber se o que os une é amor ou apenas interesses e
conveniências. Paradoxalmente, sofre-se pela ausência de alguém tanto quanto
alguns sofrem mesmo com a presença do outro em suas vidas.
O
espaço que uma psicoterapia oferece (desprovido de preconceitos e de
julgamentos) é aquele ideal para a reflexão, para a construção de novos
conceitos e para uma análise sobre tantas mudanças que nos envolvem e que por
vezes nem nos damos conta. Sim, é possível ser feliz no amor, no entanto, é
preciso uma dose de coragem para a tomada de atitudes.
César A R de Oliveira
Psicólogo CRP 07/13.695
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