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quarta-feira, 2 de agosto de 2017

PARA SER FELIZ NO AMOR

Este é o título de um dos tantos livros de autoria do psiquiatra paulista Flávio Gikovate, falecido no final do ano passado e que contava com décadas de experiência psicoterápica. Se a felicidade é o desejo de todo o ser humano, encontrá-la no amor, a relação mais próxima com o outro, é a realização total! E o convívio com a pessoa amada (ou com aquela que pensamos amar) é uma tarefa para a qual nem sempre estamos prontos e que vem à baila nas sessões psicoterápicas com muita frequência.
Se amar alguém é da condição humana, a sua forma de manifestação vem mudando juntamente com o passar dos tempos: Como amamos nos dias cibernéticos de hoje? Em rede social, uma “curtida” de seu amado à outra pessoa, significa o quê? Trocas de confidência entre aqueles que pessoalmente nunca estiveram juntos, pode? É traição? Dá para continuarmos nos binômios “ativo/passivo”, “provedor/provido” ou “do lar/do trabalho”? Claro que não, novos tempos pedem novos paradigmas! A psiquiatra paulistana Carmita Abdo acaba de atualizar dados de uma pesquisa sua feita há oito anos: na primeira ocasião o índice de mulheres que responderam afirmativamente dizendo fazer sexo apenas por atração foi de 43%, enquanto que nos resultados do ano de 2016 o valor subiu para 57%, já mais do que a metade do universo feminino pesquisado. Sabem a qual paradigma isto quebra? Aquele, de dizer que o homem é mais atraído a relacionamentos afetivo por interesse sexual enquanto que a mulher fica na defensiva por ser mais romântica. Gigovate diz que isto fora uma invenção sociocultural do passado - quando engravidar antes do casamento desqualificava a mulher - de que apenas por romantismo (e não por interesse sexual) ela aproximava-se de seu pretendente. O fato é que Abdo entende o momento como sendo o da segunda grande revolução sexual feminina (a primeira foi a da pílula, que separou sexo reprodutivo do erótico), aquele no qual amor e sexo não precisam andar necessariamente juntos e que as mulheres podem procurar relacionamento sexual quando desejarem, e não somente quando estiverem apaixonadas.
Amar, nos dias de hoje, requer novo posicionamento uma vez que amor romântico é aquele que difere do ficar, do pegar ou de qualquer neologismo contemporâneo. É possível ter um relacionamento sério sem morar sob o mesmo teto, sem precisar juntar os meus, os teus e quem sabe ainda acrescentar “os nossos” filhos. Se novas formas de amar surgiram, não nos esqueçamos do amor nas relações homoafetivas, uniões igualmente importantes e parcialmente amparadas pelo Estado mas que ainda carecem de maior aceitação de todos. Foram tantas as modificações nos últimos anos que há pessoas sofrendo por não encontrar alguém para conviver, enquanto que há outros que sofrem por estar com alguém ao seu lado, mas sentindo-se desorientados sem saber se o que os une é amor ou apenas interesses e conveniências. Paradoxalmente, sofre-se pela ausência de alguém tanto quanto alguns sofrem mesmo com a presença do outro em suas vidas.
O espaço que uma psicoterapia oferece (desprovido de preconceitos e de julgamentos) é aquele ideal para a reflexão, para a construção de novos conceitos e para uma análise sobre tantas mudanças que nos envolvem e que por vezes nem nos damos conta. Sim, é possível ser feliz no amor, no entanto, é preciso uma dose de coragem para a tomada de atitudes.
César A R de Oliveira

Psicólogo CRP 07/13.695