Certo
dia, em um encontro, foi pedido a alguém que se apresentasse ao grupo. Ela disse:
“Meu nome é X, sou profissional de tal área e...” - quando foi apressadamente interrompida pelo
interlocutor: “Foi você quem escolheu seu nome?” – perguntou-lhe, dizendo –
“Você não é o nome que te deram, nem a profissão que exerce, quem é você?” . O
constrangimento por não conseguir se apresentar era evidente: sexo, idade, filiação,
endereço, preferências, nada servia para justificar a tentativa de
apresentação. A questão é milenar; o oráculo de Delphos já propunha o
conhece-te a ti mesmo. Quem pode afirmar que efetivamente tem grande
conhecimento de si? O autoconhecimento é algo concluso ou passamos uma vida
toda nos descobrindo? Para que serve?
Há autores que afirmam ser este o maior desafio de nossa
vida. Isto exige muito esforço, disciplina e maturidade para olharmos (e
podermos reconhecer) em nós aquele lado que muitas vezes desconhecemos ou não
gostamos de mostrar a ninguém, nem a nós mesmos. O grande psicólogo Carl G Jung
já teorizava sobre aquilo que denominou de “Sombra”, fixada nas entranhas do
inconsciente mas sempre pronta para a qualquer momento emergir, surpreendendo a
todos. Um processo saudável de autoconhecimento implica em reconhecermos nossas
sombras e aceitarmos-las, pois, por mais absurdas que pareçam, são partes
nossas!
Nas terapias, é muito comum manifestações que indiquem um
sujeito que quer sair de um emprego, de um relacionamento afetivo, de uma
cidade, como se isto pudesse afastar de si um mal estar que em muitas das vezes
não está no ambiente, no outro, mas em si mesmo. Está sentenciado: para onde
ir, sua essência (o Ser) irá junto. Quando temos a oportunidade de nos
conhecermos melhor, as relações com o mundo ficam menos sofridas, o choque com
a realidade não é tão ameaçador, percebemos que nossas imperfeições não são
muito diferentes das dos outros. E o que
acontece? Passamos a nos sentir mais seguros, não dando muita importância aos
erros, evitando com isto o medo, porta de entrada para uma série de
perturbações psíquicas e emocionais.
De diversas maneiras estudos teológicos, psicológicos ou
filosóficos tratam das ações do pensamento sobre o ser humano. Muitos quadros
de sintomas psicopatológicos (a grosso modo chamados de doenças) referem-se
sobre pensamentos, sejam delirantes, depressivos, invasivos, mágicos, de
suicídios etc... Daí que praticar o autoconhecimento implica, necessariamente,
em realizar mudanças de hábitos, em exercitar o bem pensar: se os pensamentos -
produções próprias - são tão influentes em nossas atitudes e tomadas de
decisões, devemos ter o cuidado de produzi-los com a melhor qualidade possível.
Assim, se pudermos
considerar que um pensamento é um diálogo interno silencioso (mas muito
poderoso), uma manifestação de nossa psique, quanto mais formos honestos e
coerentes, maior poderá ser a garantia de que nossas atitudes nos encaminhem
para um viver melhor, com menos conflitos e com maior sensatez. Mas esta boa
qualidade de pensamentos só será possível quando estivermos prontos para
respondermos à pergunta sobre quem somos, sem embaraços.