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terça-feira, 7 de julho de 2015

Facebook: a invasão consentida

Na última edição da revista Superinteressante (Ed. Abril, jun/15) foi apresentada uma reportagem com muitas informações sobre o Facebook, das quais, algumas desconhecidas em sua maioria. Escrevo sem a pretensão de criticar tal rede social ou seus participantes, onde me incluo, pretendo apenas levar à reflexão sobre alguns aspectos psicológicos sugeridos naquele artigo e que podem afetar alguns usuários. Para começar, há mais pessoas com contas nesta rede (1,4 bilhão) do que aquele que se estima ser o número de católicos existentes no mundo (200 milhões a menos). Estudos de universidades (Michigan, EUA e de Leuven, Bélgica) concluem que alterações no comportamento humano podem ser decorrentes do uso excessivo da rede, tais como aumento de impulsividade, aumento de comportamento narcísico, maior desatenção e despreocupação com os sentimentos dos outros, o que torna muitas pessoas mais infelizes. Quanto maior o tempo de permanência conectado maior a infelicidade, o que não para por ai: sentimentos de inveja (imagine você no trabalho - 15hs da tarde - vendo fotos de algum amigo em uma viagem a um local paradisíaco...), também a sensação de fracasso por não poder “fazer” tantas coisas boas como as que vê postarem, além de ódio, revolta ou intolerância com postagens de pontos de vista opostos ao do usuário no que tange a religião, política, futebol, sexualidade... e por ai afora. Outra informação importante na revista é a de um estudo longitudinal de 30 anos (chama-se assim aquela pesquisa que dura anos a fio) e que abrangeu o incrível número de 14 mil estudantes universitários – só por isto se vê a profundidade da pesquisa – o qual traz esta impressionante informação: jovens da geração atual, os quais cresceram utilizando internet, tem 40% menos empatia do que os jovens de três décadas atrás. A explicação, é a de que “... na vida online fica fácil ignorar as pessoas quando não queremos ouvir seus problemas ou críticas – e, com o tempo, esse comportamento indiferente acaba sendo adotado também na vida off-line.” (Superinteressante jun/15).
Apenas ficando com estas poucas informações, podemos perceber o quanto um sistema pode influenciar no comportamento humano e nas relações sociais, além de ser um potencial agente estressor ou gerador de sofrimentos. É muito importante que tenhamos consciência de que nosso tempo – aquilo que muitos reclamam sempre estar em falta – é cada vez mais invadido e nos tirado, se assim o permitirmos. Anos atrás, ficar na “rede” exigia sentar-se frente a um computador e uma linha telefônica fixa, depois, notebooks, tablets e wireless nos deram movimento. Atualmente com smartphones e sinal de celular tais limitações quase desapareceram.
Mas como diz o ditado, onde a diferença entre o remédio e o veneno é apenas a dosagem, que saibamos utilizar tal ferramenta virtual e que isto nos facilite a dar um oi a um amigo e combinarmos um café, para um verdadeiro encontro com trocas de abraços e de sentimentos. Que procuremos nossa felicidade em nossas atitudes, e não nas fotos e sorrisos em cliques (muitas vezes, vários cliques até se conseguir a foto ideal).  Procure dar atenção a seus sentimentos, são realmente necessários? Justificáveis? Você escuta reclamações das pessoas com as quais convive no trabalho ou na escola? Precisa olhar a rede a cada intervalo que tem, deixando de fazer outras coisas que seriam importantes? Efetivamente, tem com quem conversar, expressar sentimentos, confiar uma conversa mais íntima? Tem um ombro para um afago?
Nada substituirá um encontro com um amigo, sorrisos, atenção dirigida unicamente ao momento (ao contrário das redes onde se deixa uma TV/som ligados, olha-se simultaneamente o telefone e abrem-se caixas de diálogos para conversas paralelas). Está na hora de parar, deixar a pressa de lado, viver e observar o momento. Não é à toa que se diz que o tempo passa rapidamente demais, afinal, alguns nem estão percebendo o que fazem com ele.

César A R de Oliveira

Psicólogo – saude_mental@outlook.com

2 comentários:

  1. maravilhoso.............mas ouso ainda dizer da falta de diálogo também em familia gostei muito dessas verdades......

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    Respostas
    1. Com certeza Emily, diálogo é tudo, é o que nos coloca na condição humana, basta sabermos utilizá-lo. Tenha um bom dia!

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