Durante o mês de julho, na mesma semana,
duas notícias chamaram minha atenção: “Mulher
morre após perder 45 kg em dieta radical” e “Fisiculturista morre de câncer no fígado após dieta cheia de
proteínas”. Nos dois casos a busca pelo corpo perfeito parece ser o ponto
em comum: ela, após ter sido rejeitada por um homem que lhe dissera que por ser
gorda não conseguiria nada na vida, enquanto que o fisiculturista - segundo
suas palavras - com o objetivo de “ficar maior o que pudesse”. Profissionais da
área da saúde informam a todo o momento sobre os riscos que dietas radicais
representam, tanto para aquele que pretende perder peso como para o que deseja
aumentar massa corporal, e o bom senso aponta para a mesma direção: a
necessidade, nestes casos, de acompanhamento profissional.
Do ponto de vista da psicologia, abordo
a temática referindo-me à autoestima. Nos casos acima, bem evidenciados de que ambos
estão insatisfeitos com a imagem corporal e buscam uma transformação de maneira
absolutamente errônea: querem uma mudança em suas aparências (exterior)
enquanto que deveriam dialogar consigo mesmo para que a primeira transformação
ocorresse na instância interior. De forma simplificada, autoestima pode ser
definida como aquilo que pensamos a respeito de nós mesmos e que repercute em
nossas relações afetivas, sociais e profissionais. Também está relacionada com
a autoimagem que fazemos e, por conseguinte, sobre como ela interfere em nossas
vidas.
Pessoas
com autoestima saudável são capazes de valorizar pequenas conquistas, de
diversificar interesses, desempenhar diferentes papéis, e atuar bem nas
relações familiares, profissionais e de amizades, além de manter uma boa
autonomia em suas vidas. Tais aptidões são benéficas à medida que viabilizam a
aceitação social, pois, do contrário, um sentimento de rejeição viria
acompanhado muitas vezes de comportamento depressivo, de menos-valia e de
ojeriza à própria imagem. A desvalorização social interfere nos mecanismos de
autocontrole que permitem enfrentar desafios novos de forma equilibrada. Em
1930, ao escrever sobre O mal estar na
civilização, Freud disse que um dos grandes obstáculos do homem em sua
busca pela felicidade, e que lhe traz maiores dificuldades, é o sofrimento
resultante das relações humanas.
Pessoas
que sentem-se atingidas em sua autoestima podem perder o domínio de si e a
vontade de se esforçar, sentindo-se limitadas e com a impressão de que os que
estão à sua volta ficam lhes observando (e a seus defeitos) o tempo todo.
Valorizar as próprias qualidades e saber de suas limitações, podem ser
ferramentas imprescindíveis ante a situações de crise ou de fracasso, todavia,
o mais importante é não isolar-se ou ficar centrado no próprio sofrimento, é
preciso ver outras possibilidades.
A busca pelo autoconhecimento e o melhor
ajustamento da autoestima como ferramenta de grande utilidade nas relações
sociais, possibilitaria um melhor convívio em grupo e nos fortaleceria na
persistência diante do fracasso, além do que, o relacionamento saudável conosco
mesmo nos possibilitaria maior felicidade. Assim, eventuais insatisfações com
relação ao próprio corpo seriam, antes de tudo, motivos de reflexão para que se
buscasse uma solução da maneira mais saudável possível.
César Augusto – psicólogo
saude_mental@outlook.com