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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Dietas Radicais


Durante o mês de julho, na mesma semana, duas notícias chamaram minha atenção: “Mulher morre após perder 45 kg em dieta radical” e “Fisiculturista morre de câncer no fígado após dieta cheia de proteínas”. Nos dois casos a busca pelo corpo perfeito parece ser o ponto em comum: ela, após ter sido rejeitada por um homem que lhe dissera que por ser gorda não conseguiria nada na vida, enquanto que o fisiculturista - segundo suas palavras - com o objetivo de “ficar maior o que pudesse”. Profissionais da área da saúde informam a todo o momento sobre os riscos que dietas radicais representam, tanto para aquele que pretende perder peso como para o que deseja aumentar massa corporal, e o bom senso aponta para a mesma direção: a necessidade, nestes casos, de acompanhamento profissional.
Do ponto de vista da psicologia, abordo a temática referindo-me à autoestima. Nos casos acima, bem evidenciados de que ambos estão insatisfeitos com a imagem corporal e buscam uma transformação de maneira absolutamente errônea: querem uma mudança em suas aparências (exterior) enquanto que deveriam dialogar consigo mesmo para que a primeira transformação ocorresse na instância interior. De forma simplificada, autoestima pode ser definida como aquilo que pensamos a respeito de nós mesmos e que repercute em nossas relações afetivas, sociais e profissionais. Também está relacionada com a autoimagem que fazemos e, por conseguinte, sobre como ela interfere em nossas vidas.
Pessoas com autoestima saudável são capazes de valorizar pequenas conquistas, de diversificar interesses, desempenhar diferentes papéis, e atuar bem nas relações familiares, profissionais e de amizades, além de manter uma boa autonomia em suas vidas. Tais aptidões são benéficas à medida que viabilizam a aceitação social, pois, do contrário, um sentimento de rejeição viria acompanhado muitas vezes de comportamento depressivo, de menos-valia e de ojeriza à própria imagem. A desvalorização social interfere nos mecanismos de autocontrole que permitem enfrentar desafios novos de forma equilibrada. Em 1930, ao escrever sobre O mal estar na civilização, Freud disse que um dos grandes obstáculos do homem em sua busca pela felicidade, e que lhe traz maiores dificuldades, é o sofrimento resultante das relações humanas.
Pessoas que sentem-se atingidas em sua autoestima podem perder o domínio de si e a vontade de se esforçar, sentindo-se limitadas e com a impressão de que os que estão à sua volta ficam lhes observando (e a seus defeitos) o tempo todo. Valorizar as próprias qualidades e saber de suas limitações, podem ser ferramentas imprescindíveis ante a situações de crise ou de fracasso, todavia, o mais importante é não isolar-se ou ficar centrado no próprio sofrimento, é preciso ver outras possibilidades.
 A busca pelo autoconhecimento e o melhor ajustamento da autoestima como ferramenta de grande utilidade nas relações sociais, possibilitaria um melhor convívio em grupo e nos fortaleceria na persistência diante do fracasso, além do que, o relacionamento saudável conosco mesmo nos possibilitaria maior felicidade. Assim, eventuais insatisfações com relação ao próprio corpo seriam, antes de tudo, motivos de reflexão para que se buscasse uma solução da maneira mais saudável possível.

César Augusto – psicólogo

saude_mental@outlook.com

terça-feira, 7 de julho de 2015

Facebook: a invasão consentida

Na última edição da revista Superinteressante (Ed. Abril, jun/15) foi apresentada uma reportagem com muitas informações sobre o Facebook, das quais, algumas desconhecidas em sua maioria. Escrevo sem a pretensão de criticar tal rede social ou seus participantes, onde me incluo, pretendo apenas levar à reflexão sobre alguns aspectos psicológicos sugeridos naquele artigo e que podem afetar alguns usuários. Para começar, há mais pessoas com contas nesta rede (1,4 bilhão) do que aquele que se estima ser o número de católicos existentes no mundo (200 milhões a menos). Estudos de universidades (Michigan, EUA e de Leuven, Bélgica) concluem que alterações no comportamento humano podem ser decorrentes do uso excessivo da rede, tais como aumento de impulsividade, aumento de comportamento narcísico, maior desatenção e despreocupação com os sentimentos dos outros, o que torna muitas pessoas mais infelizes. Quanto maior o tempo de permanência conectado maior a infelicidade, o que não para por ai: sentimentos de inveja (imagine você no trabalho - 15hs da tarde - vendo fotos de algum amigo em uma viagem a um local paradisíaco...), também a sensação de fracasso por não poder “fazer” tantas coisas boas como as que vê postarem, além de ódio, revolta ou intolerância com postagens de pontos de vista opostos ao do usuário no que tange a religião, política, futebol, sexualidade... e por ai afora. Outra informação importante na revista é a de um estudo longitudinal de 30 anos (chama-se assim aquela pesquisa que dura anos a fio) e que abrangeu o incrível número de 14 mil estudantes universitários – só por isto se vê a profundidade da pesquisa – o qual traz esta impressionante informação: jovens da geração atual, os quais cresceram utilizando internet, tem 40% menos empatia do que os jovens de três décadas atrás. A explicação, é a de que “... na vida online fica fácil ignorar as pessoas quando não queremos ouvir seus problemas ou críticas – e, com o tempo, esse comportamento indiferente acaba sendo adotado também na vida off-line.” (Superinteressante jun/15).
Apenas ficando com estas poucas informações, podemos perceber o quanto um sistema pode influenciar no comportamento humano e nas relações sociais, além de ser um potencial agente estressor ou gerador de sofrimentos. É muito importante que tenhamos consciência de que nosso tempo – aquilo que muitos reclamam sempre estar em falta – é cada vez mais invadido e nos tirado, se assim o permitirmos. Anos atrás, ficar na “rede” exigia sentar-se frente a um computador e uma linha telefônica fixa, depois, notebooks, tablets e wireless nos deram movimento. Atualmente com smartphones e sinal de celular tais limitações quase desapareceram.
Mas como diz o ditado, onde a diferença entre o remédio e o veneno é apenas a dosagem, que saibamos utilizar tal ferramenta virtual e que isto nos facilite a dar um oi a um amigo e combinarmos um café, para um verdadeiro encontro com trocas de abraços e de sentimentos. Que procuremos nossa felicidade em nossas atitudes, e não nas fotos e sorrisos em cliques (muitas vezes, vários cliques até se conseguir a foto ideal).  Procure dar atenção a seus sentimentos, são realmente necessários? Justificáveis? Você escuta reclamações das pessoas com as quais convive no trabalho ou na escola? Precisa olhar a rede a cada intervalo que tem, deixando de fazer outras coisas que seriam importantes? Efetivamente, tem com quem conversar, expressar sentimentos, confiar uma conversa mais íntima? Tem um ombro para um afago?
Nada substituirá um encontro com um amigo, sorrisos, atenção dirigida unicamente ao momento (ao contrário das redes onde se deixa uma TV/som ligados, olha-se simultaneamente o telefone e abrem-se caixas de diálogos para conversas paralelas). Está na hora de parar, deixar a pressa de lado, viver e observar o momento. Não é à toa que se diz que o tempo passa rapidamente demais, afinal, alguns nem estão percebendo o que fazem com ele.

César A R de Oliveira

Psicólogo – saude_mental@outlook.com