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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Tabagismo e Personalidade


“...uma vez conhecendo a personalidade dos usuários* (*tabagistas), após um atendimento individual, ou com base em dados de literatura, o terapeuta pode direcionar um aconselhamento clínico específico para cada indivíduo." Ricardo Gorayeb, professor da Universidade de São Paulo -USP

Na última quarta feira, no mundo todo, o tabagismo ganhou destaque por se tratar do Dia Internacional de Combate ao Fumo. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam para uma prevalência de consumo que varia de continente para continente, mas, em termos gerais, aproximadamente 20% da população mundial é tabagista.
Em nossa cultura, ainda que considerado um atentado à saúde própria e comprovadamente aos que convivem com um dependente (fumantes passivos), o tabagismo goza de legalidade, muito embora Leis estaduais, municipais ou atos administrativos cerceiem cada vez mais o hábito. Mesmo que os prejuízos à saúde do corpo como câncer, enfizema pulmonar, envelhecimento da pele e tantos outros sejam enfaticamente abordados, há, para a psicologia – e não menos importante - o sofrimento psíquico da dependência.
Há um estudo feito na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) o qual indica que apesar de a literatura mostrar que cerca de 70% dos fumantes afirmam querer parar de fumar, poucos conseguem: a maior parte precisa de cinco a sete tentativas antes de definitivamente largar o cigarro. Mas o que os prende ao vício? A dependência à nicotina, possivelmente, pois esta é uma desordem complexa e difícil de ser superada, porém não é intransponível. A motivação para deixar o hábito é um dos fatores mais importantes na cessação do tabagismo e está implicada a uma gama de variáveis hereditárias, fisiológicas, ambientais e psicológicas. Ou seja, o primeiro passo é querer.
Outro estudo publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia de autoria de três professores doutores na área da saúde, destaca que algumas características de personalidade dos fumantes agem como obstáculos à cessação do tabagismo. O fato é que fumantes não constituem um grupo homogêneo e as pessoas têm diferentes razões ou motivos para fumar, além disto, algumas podem ser influenciadas simultaneamente por variáveis individuais e fatores situacionais.  O estudo aponta ainda que duas classes de situações parecem desencadear o desejo de fumar: uma delas consiste em situações entediantes, que produzem necessidade de aumentar a estimulação cortical enquanto que a outra seria produzida por estresse. Tanto o tédio quanto o estresse devem ser analisados durante o processo terapêutico.
Ao considerarmos aspectos da personalidade e suas relações com o tabagismo, fica óbvio que um paciente com ansiedade elevada requer uma abordagem diferenciada da de um depressivo, já que a síndrome de abstinência causada pela falta da nicotina (possivelmente a maior causa da manutenção do vício) terá a intensidade dos sintomas variados em intensidade para cada um. O malestar gerado pela abstinência do cigarro pode iniciar dentro de algumas horas após a interrupção e atingir o auge poucos dias depois sem o cigarro. As maiores queixas de quem parou de fumar se referem à compulsão aumentada, à irritabilidade e à dificuldade de concentração que perduram por muito tempo. Em muitos casos este estado pode ser observado por trinta dias ou mais, mas os sintomas de compulsão podem durar meses ou anos, requerendo atenção constante.
Outras relações com a personalidade foram encontradas indicando uma maior prevalência de casos de transtorno de pânico, esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção, alcoolismo e até mesmo de comportamento violento entre tabagistas.
Muitas dificuldades surgem na vida de quem está disposto a abandonar o cigarro, porém, os ganhos obtidos após, compensam qualquer sacrifício. A eliminação do odor característico que fica impregnado nos cabelos, na pele e nas roupas são o primeiro ganho, depois, com o tempo (e a ajuda de um dentista), o amarelo dos dentes dará lugar a um sorriso misto de saúde e de felicidade, a desintoxicação gradual do organismo se fará sentir e uma nova pessoa ressurgirá. Sempre é tempo de parar de fumar e de tomar a iniciativa para uma primeira tentativa. Em qual você vai conseguir? Dê-se esta oportunidade, apenas tente.    

 César AR de Oliveira – psicólogo

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