“...uma vez conhecendo a personalidade dos
usuários* (*tabagistas), após um atendimento individual, ou com base em dados de literatura, o
terapeuta pode direcionar um aconselhamento clínico específico para cada
indivíduo." Ricardo
Gorayeb, professor da Universidade de São Paulo -USP
Na última
quarta feira, no mundo todo, o tabagismo ganhou destaque por se tratar do Dia
Internacional de Combate ao Fumo. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS)
apontam para uma prevalência de consumo que varia de continente para continente,
mas, em termos gerais, aproximadamente 20% da população mundial é tabagista.
Em nossa
cultura, ainda que considerado um atentado à saúde própria e comprovadamente
aos que convivem com um dependente (fumantes passivos), o tabagismo goza de
legalidade, muito embora Leis estaduais, municipais ou atos administrativos
cerceiem cada vez mais o hábito. Mesmo que os prejuízos à saúde do corpo como
câncer, enfizema pulmonar, envelhecimento da pele e tantos outros sejam enfaticamente
abordados, há, para a psicologia – e não menos importante - o sofrimento
psíquico da dependência.
Há um estudo feito na
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) o qual indica que apesar de a
literatura mostrar que cerca de 70% dos fumantes afirmam querer parar de fumar,
poucos conseguem: a maior parte precisa de cinco a sete tentativas antes de
definitivamente largar o cigarro. Mas o que os prende ao vício? A dependência à
nicotina, possivelmente, pois esta é uma desordem complexa e difícil de ser
superada, porém não é intransponível. A motivação para deixar o hábito é um dos
fatores mais importantes na cessação do tabagismo e está implicada a uma gama
de variáveis hereditárias, fisiológicas, ambientais e psicológicas. Ou seja, o
primeiro passo é querer.
Outro estudo publicado no Jornal
Brasileiro de Pneumologia de autoria de três professores doutores na área da
saúde, destaca que algumas características de personalidade dos fumantes agem como
obstáculos à cessação do tabagismo. O fato é que fumantes não constituem um
grupo homogêneo e as pessoas têm diferentes razões ou motivos para fumar, além
disto, algumas podem ser influenciadas simultaneamente por variáveis
individuais e fatores situacionais. O estudo
aponta ainda que duas classes de situações parecem desencadear o desejo de
fumar: uma delas consiste em situações entediantes, que produzem necessidade de
aumentar a estimulação cortical enquanto que a outra seria produzida por
estresse. Tanto o tédio quanto o estresse devem ser analisados durante o
processo terapêutico.
Ao considerarmos aspectos da
personalidade e suas relações com o tabagismo, fica óbvio que um paciente com
ansiedade elevada requer uma abordagem diferenciada da de um depressivo, já que
a síndrome de abstinência causada pela falta da nicotina (possivelmente a maior
causa da manutenção do vício) terá a intensidade dos sintomas variados em
intensidade para cada um. O malestar gerado pela abstinência do cigarro pode
iniciar dentro de algumas horas após a interrupção e atingir o auge poucos dias
depois sem o cigarro. As maiores queixas de quem parou de fumar se referem à
compulsão aumentada, à irritabilidade e à dificuldade de concentração que
perduram por muito tempo. Em muitos casos este estado pode ser observado por
trinta dias ou mais, mas os sintomas de compulsão podem durar meses ou anos,
requerendo atenção constante.
Outras relações com a personalidade foram
encontradas indicando uma maior prevalência de casos de transtorno de pânico,
esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção, alcoolismo e até mesmo de
comportamento violento entre tabagistas.
Muitas dificuldades surgem na vida de
quem está disposto a abandonar o cigarro, porém, os ganhos obtidos após,
compensam qualquer sacrifício. A eliminação do odor característico que fica
impregnado nos cabelos, na pele e nas roupas são o primeiro ganho, depois, com
o tempo (e a ajuda de um dentista), o amarelo dos dentes dará lugar a um
sorriso misto de saúde e de felicidade, a desintoxicação gradual do organismo
se fará sentir e uma nova pessoa ressurgirá. Sempre é tempo de parar de fumar e
de tomar a iniciativa para uma primeira tentativa. Em qual você vai conseguir?
Dê-se esta oportunidade, apenas tente.
César AR de Oliveira – psicólogo
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