“Ando devagar
porque já tive pressa, e levo este sorriso, porque já chorei demais...” Almir Sater
Tocando em frente é o nome da composição
de Renato Teixeira musicada pelo Almir Sater que sugere o texto em epígrafe e
que induz a reflexões.
A mais de dez anos há um movimento
internacional - cujo ícone muito bem escolhido é um caracol – chamado Slow Food e que se opõe como forma de
reação aos fast food (lanches
rápidos) tão bem identificados com a cultura norteamericana. Há argumentos de
sobra para sua existência, uma vez que as decorrências de uma alimentação
inadequada geram preocupações governamentais para os EUA com relação à saúde de
seu povo, chegando a certo momento ao absurdo prognóstico de que uma geração
inteira de filhos pode ter longevidade menor do que a de seus pais como
consequência de seus maus hábitos alimentares. Por ações antecipadas,
felizmente, este quadro está mudando.
Transpondo tal preocupação para nossa
realidade e com a indagação de sobre como estamos nos alimentando, mais do que escrever
a respeito de aspectos nutricionais, quero me referir ao poder das reuniões
familiares propiciadas em torno de uma mesa. Ainda, como moradores de cidade do
interior do estado, temos muitas pessoas almoçando em suas residências durante
a semana, o que não quer dizer que sejam poucos os que o façam fora. Na área
central de Passo Fundo há muitos restaurantes oferecendo almoços a baixo custo,
o que, se somado aos gastos em transporte de ida e vinda para casa e mais o
tempo que isto ocupa naquele intervalo, acaba sendo atrativo para que se almoce
longe da família. De menores custos mas igualmente opositores aos almoços
familiares estão os lanches rápidos.
Estudos indicam que o almoço ou um
jantar em família têm sido relacionados a uma maior satisfação conjugal, melhor
senso de identidade pessoal por parte dos adolescentes, maior saúde de
crianças, satisfação com o desempenho escolar ou de trabalho e fortalecimentos
das relações familiares, por exemplo. Uma família que almoce três dias da
semana reunida poderá ter ficado pelo menos uma hora em convívio e tratando de
seus assuntos, além de muito provavelmente ter algum ganho em aspectos
relacionados à qualidade nutricional da alimentação, sempre melhor quando feita
desta forma e que acabam tornando-se hábitos saudáveis para todos.
Na mesma
linha, a importante revista Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine publicou
recentemente um estudo com quase cinco mil crianças/adolescentes de 11 a 18
anos de idade mostrando que as refeições em família frequentemente são
associadas a um menor risco do desenvolvimento do hábito de fumar, beber e usar
maconha, entre os jovens. Tal estudo indicou também uma menor incidência de
sintomas de depressão e pensamentos suicidas, além de notas mais altas na
escola. Vários são os benefícios de quando se tem uma família reunida e
disposta ao diálogo, e os instantes das refeições, bem aproveitados, servem
para isto também.
Quanto ao movimento Slow food, o mesmo tem como seus propósitos o da preservação da
biodiversidade e também o de desenvolver o prazer do gosto por comer. Muitas
pessoas acabam, por uma pressa geralmente inexplicável, engolindo e não
saboreando sua comida. Assim, perdem de apreciar os sabores da vida, e, num
trocadilho inteligente da música de Sater, deixam de diferenciar “o sabor das
massas e das maçãs...”. Ao simpatizarmos ao movimento Slow food, e, conciliando
a este o prazer de reunir a família em torno de uma refeição, teremos
benefícios que transcendem o simples aspecto de parar para comer. Estaremos
dando maior qualidade de vida a nós mesmos e àqueles que amamos.
César AR de Oliveira – psicólogo