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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Para quê tanta pressa?




“Ando devagar porque já tive pressa, e levo este sorriso, porque já chorei demais...” Almir Sater  

Tocando em frente é o nome da composição de Renato Teixeira musicada pelo Almir Sater que sugere o texto em epígrafe e que induz a reflexões.
A mais de dez anos há um movimento internacional - cujo ícone muito bem escolhido é um caracol – chamado Slow Food e que se opõe como forma de reação aos fast food (lanches rápidos) tão bem identificados com a cultura norteamericana. Há argumentos de sobra para sua existência, uma vez que as decorrências de uma alimentação inadequada geram preocupações governamentais para os EUA com relação à saúde de seu povo, chegando a certo momento ao absurdo prognóstico de que uma geração inteira de filhos pode ter longevidade menor do que a de seus pais como consequência de seus maus hábitos alimentares. Por ações antecipadas, felizmente, este quadro está mudando.
Transpondo tal preocupação para nossa realidade e com a indagação de sobre como estamos nos alimentando, mais do que escrever a respeito de aspectos nutricionais, quero me referir ao poder das reuniões familiares propiciadas em torno de uma mesa. Ainda, como moradores de cidade do interior do estado, temos muitas pessoas almoçando em suas residências durante a semana, o que não quer dizer que sejam poucos os que o façam fora. Na área central de Passo Fundo há muitos restaurantes oferecendo almoços a baixo custo, o que, se somado aos gastos em transporte de ida e vinda para casa e mais o tempo que isto ocupa naquele intervalo, acaba sendo atrativo para que se almoce longe da família. De menores custos mas igualmente opositores aos almoços familiares estão os lanches rápidos.
Estudos indicam que o almoço ou um jantar em família têm sido relacionados a uma maior satisfação conjugal, melhor senso de identidade pessoal por parte dos adolescentes, maior saúde de crianças, satisfação com o desempenho escolar ou de trabalho e fortalecimentos das relações familiares, por exemplo. Uma família que almoce três dias da semana reunida poderá ter ficado pelo menos uma hora em convívio e tratando de seus assuntos, além de muito provavelmente ter algum ganho em aspectos relacionados à qualidade nutricional da alimentação, sempre melhor quando feita desta forma e que acabam tornando-se hábitos saudáveis para todos.     
Na mesma linha, a importante revista Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine publicou recentemente um estudo com quase cinco mil crianças/adolescentes de 11 a 18 anos de idade mostrando que as refeições em família frequentemente são associadas a um menor risco do desenvolvimento do hábito de fumar, beber e usar maconha, entre os jovens. Tal estudo indicou também uma menor incidência de sintomas de depressão e pensamentos suicidas, além de notas mais altas na escola. Vários são os benefícios de quando se tem uma família reunida e disposta ao diálogo, e os instantes das refeições, bem aproveitados, servem para isto também.
Quanto ao movimento Slow food, o mesmo tem como seus propósitos o da preservação da biodiversidade e também o de desenvolver o prazer do gosto por comer. Muitas pessoas acabam, por uma pressa geralmente inexplicável, engolindo e não saboreando sua comida. Assim, perdem de apreciar os sabores da vida, e, num trocadilho inteligente da música de Sater, deixam de diferenciar “o sabor das massas e das maçãs...”. Ao simpatizarmos ao movimento Slow food, e, conciliando a este o prazer de reunir a família em torno de uma refeição, teremos benefícios que transcendem o simples aspecto de parar para comer. Estaremos dando maior qualidade de vida a nós mesmos e àqueles que amamos.
 

César AR de Oliveira – psicólogo

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Tabagismo e Personalidade


“...uma vez conhecendo a personalidade dos usuários* (*tabagistas), após um atendimento individual, ou com base em dados de literatura, o terapeuta pode direcionar um aconselhamento clínico específico para cada indivíduo." Ricardo Gorayeb, professor da Universidade de São Paulo -USP

Na última quarta feira, no mundo todo, o tabagismo ganhou destaque por se tratar do Dia Internacional de Combate ao Fumo. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam para uma prevalência de consumo que varia de continente para continente, mas, em termos gerais, aproximadamente 20% da população mundial é tabagista.
Em nossa cultura, ainda que considerado um atentado à saúde própria e comprovadamente aos que convivem com um dependente (fumantes passivos), o tabagismo goza de legalidade, muito embora Leis estaduais, municipais ou atos administrativos cerceiem cada vez mais o hábito. Mesmo que os prejuízos à saúde do corpo como câncer, enfizema pulmonar, envelhecimento da pele e tantos outros sejam enfaticamente abordados, há, para a psicologia – e não menos importante - o sofrimento psíquico da dependência.
Há um estudo feito na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) o qual indica que apesar de a literatura mostrar que cerca de 70% dos fumantes afirmam querer parar de fumar, poucos conseguem: a maior parte precisa de cinco a sete tentativas antes de definitivamente largar o cigarro. Mas o que os prende ao vício? A dependência à nicotina, possivelmente, pois esta é uma desordem complexa e difícil de ser superada, porém não é intransponível. A motivação para deixar o hábito é um dos fatores mais importantes na cessação do tabagismo e está implicada a uma gama de variáveis hereditárias, fisiológicas, ambientais e psicológicas. Ou seja, o primeiro passo é querer.
Outro estudo publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia de autoria de três professores doutores na área da saúde, destaca que algumas características de personalidade dos fumantes agem como obstáculos à cessação do tabagismo. O fato é que fumantes não constituem um grupo homogêneo e as pessoas têm diferentes razões ou motivos para fumar, além disto, algumas podem ser influenciadas simultaneamente por variáveis individuais e fatores situacionais.  O estudo aponta ainda que duas classes de situações parecem desencadear o desejo de fumar: uma delas consiste em situações entediantes, que produzem necessidade de aumentar a estimulação cortical enquanto que a outra seria produzida por estresse. Tanto o tédio quanto o estresse devem ser analisados durante o processo terapêutico.
Ao considerarmos aspectos da personalidade e suas relações com o tabagismo, fica óbvio que um paciente com ansiedade elevada requer uma abordagem diferenciada da de um depressivo, já que a síndrome de abstinência causada pela falta da nicotina (possivelmente a maior causa da manutenção do vício) terá a intensidade dos sintomas variados em intensidade para cada um. O malestar gerado pela abstinência do cigarro pode iniciar dentro de algumas horas após a interrupção e atingir o auge poucos dias depois sem o cigarro. As maiores queixas de quem parou de fumar se referem à compulsão aumentada, à irritabilidade e à dificuldade de concentração que perduram por muito tempo. Em muitos casos este estado pode ser observado por trinta dias ou mais, mas os sintomas de compulsão podem durar meses ou anos, requerendo atenção constante.
Outras relações com a personalidade foram encontradas indicando uma maior prevalência de casos de transtorno de pânico, esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção, alcoolismo e até mesmo de comportamento violento entre tabagistas.
Muitas dificuldades surgem na vida de quem está disposto a abandonar o cigarro, porém, os ganhos obtidos após, compensam qualquer sacrifício. A eliminação do odor característico que fica impregnado nos cabelos, na pele e nas roupas são o primeiro ganho, depois, com o tempo (e a ajuda de um dentista), o amarelo dos dentes dará lugar a um sorriso misto de saúde e de felicidade, a desintoxicação gradual do organismo se fará sentir e uma nova pessoa ressurgirá. Sempre é tempo de parar de fumar e de tomar a iniciativa para uma primeira tentativa. Em qual você vai conseguir? Dê-se esta oportunidade, apenas tente.    

 César AR de Oliveira – psicólogo