O
filósofo romano Sêneca (4 a.C), foi uma das pessoas mais ricas de Roma,
estadista famoso e conselheiro do imperador. Sêneca teve que negociar,
persuadir e planejar seu caminho pela vida. Ao invés de filosofar da segurança
da cátedra de uma universidade, ele teve que lidar constantemente com pessoas
não cooperativas e poderosas e enfrentar o desastre, o exílio, a saúde frágil e
a condenação à morte. Sêneca correu riscos e teve grandes feitos (Wikipédia).
Não
há como ler suas obras e não ficar surpreso pela inexistência de “prazo de
validade”. Mesmo tendo se passado quase dois mil anos, muito do que ele escreveu
permanece de uma atualidade incrível! Em sua obra “Aprendendo a viver”, já no
primeiro capítulo nos chama a atenção sobre como tratamos (mal) do tempo
perdido, principalmente aquele colocado fora por negligência. Escreve assim ao
amigo Lucílio... “Se pensares bem, passamos grande parte da vida agindo mal, a
maior parte do tempo sem fazer nada, ou fazendo algo diferente do que se
deveria fazer.” Não nos parece atual?
Então
seu conselho para bem aproveitarmos todas as horas – que está no título deste
texto – é um chamamento a vivermos o presente, o aqui agora tanto insistido por
algumas tradições filosóficas e pela própria coerência de que a vida, como um
rio, segue seu curso. Para mim a mensagem mais forte deste capítulo é quando o
filósofo nos diz que as pessoas têm consciência de quando contraem uma dívida e
de que necessitam pagá-la, porém, não se dão conta quando tomam inconvenientemente
o tempo dos outros, tempo tomado e que jamais poderão devolvê-lo. Ficam em
dívida e geram prejuízos.
O
que estamos fazendo no cotidiano merece ser analisado com muita consideração.
Frequentemente ouvimos de amigos ou familiares manifestações de planos para o
futuro, mas, no entanto, nenhuma ação que já poderia estar ocorrendo marca o
presente. Quando eu me aposentar, quando eu tiver tempo ou dinheiro, servem
apenas de desculpas para as não realizações do presente! Muitas pessoas vivem
seus dias exatamente como na expressão “correndo atrás”: sempre tendo de dar
conta de tarefas, obrigações e exigências que deixaram para depois, pois não as
realizaram quando deveriam ter feito. Falta-lhes tempo.
É
muito visível nas sessões de psicoterapia que aquelas pessoas que têm
dificuldades em utilizar seu tempo têm as mesmas dificuldades em organizar seus
afetos e em valorizar a sua autoestima. Têm dificuldades em dizer não,
sentem-se com grande culpa por não poder atender a todos – daí que mal sobra
tempo para suas próprias coisas. Um espaço para falar sobre isto sem que se sintam
julgados é o que propõe um trabalho psicoterápico, e, em assim agindo, essas
pessoas podem tratar do presente de forma que não sejam grandes dependentes do
amanhã. Criam a oportunidade de bem viver o hoje, pois, muitas vezes, o futuro
é uma ilusão.
César A R de Oliveira
Psicólogo