Sim a grafia está
correta, poderia, ainda, ser amigx ou
então amige, dentre tantas variações
na escrita. Mas a quem esta declaração de amor se dirige? Bem, no surgimento de
um novo conceito, ela está endereçada a alguém de gênero neutro: sim,
nem a um homem, nem a uma mulher, a um transexual ou a qualquer outra opção de
gênero. Aos pais desta nova geração pode parecer muito confuso que a
simplicidade de definições de comportamentos sexuais (ainda confundidas por
muitos com genitália: macho ou fêmea) tenha deixado de ser apenas masculino e
feminino, daí, o apavoramento quando procuram o auxílio psicológico numa hora
destas!
É muito frequente que os pais queiram obrigar seus filhos
a sessões de psicoterapia para “resolver este problema”, beirando quase à
insanidade daqueles que propõe – e acreditam - em “cura”, como se uma doença
fosse. Lembro-me de, no início da década de 2000, uma campanha publicitária de
muito sucesso que apresentava à mídia a chamada “Está na hora de você rever
seus conceitos...” cujas cenas baseavam-se no cotidiano de pessoas que não
acreditavam em outras possibilidades para as relações interpessoais. Agora, a
revista Veja em uma edição do mês de fevereiro passado, trouxe o tema à baila -
matéria de capa - apontando para uma revolução de costumes da ordem da
sexualidade de toda uma geração de adolescentes.
Cada vez mais a mídia expõe personagens andróginos em
novelas, programas televisivos, na literatura, teatro, ou seja, apenas facilita
a revelação daquilo que por muito tempo foi tido como vergonhoso, imoral ou
escandaloso. Estou escrevendo este artigo não sobre perversidades ou promiscuidades
sexuais (como algumas mentes obsoletas possam estar imaginando), mas para
tentar amenizar a causa da confusão de muitos pais: em algumas formas de
pensar, o que não for masculino ou feminino é errado, por isto algumas famílias
sofrem.
Quem já conversou com estas pessoas que apenas querem ter
o direito de uma manifestação de comportamento sexual que esteja em sintonia
consigo mesmo, percebe sobre o quanto sofrem por preconceitos, ameaças (em
alguns casos físicas e humilhantes) apenas por não enquadrarem-se naquilo que o
senso comum chamaria de “normal”.
Bem, aos pais que estejam passando por dificuldades de
compreensão sobre estas manifestações de comportamento de seus filhos,
recomendo, antes de qualquer atitude desastrada e que implique em grave dano
psíquico a eles e às famílias, que procurem para si uma orientação psicológica.
É preciso antes de tudo conhecer o mundo das novas gerações para que se possa
então, travar um diálogo sincero, mesmo que seja para dizer que não concorda ou
que não gosta, mas que acima de tudo, seja uma manifestação respeitosa. Lá fora
está cheio de “gente” (desumanos seria uma definição melhor) que não vão tratar
muito bem aqueles que se manifestem na neutralidade de gênero, porém, ao menos em
suas casas, eles devem sentir-se amados, acolhidos e respeitados.
César A R de Oliveira