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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Homossexualidade, Psicologia e Espiritualidade

Mês passado, no município de Soledade, assisti a uma palestra muito bem proferida pelo meu amigo professor Hercílio Quevedo, cujo tema - por vezes tabu - era o da homossexualidade. O que tornou a apresentação diferenciada foi uma explanação sob a ótica da espiritualidade, uma vez que é sabido que o modelo científico de Saúde aborda o sujeito com o viés biopsicossocial, orientando para que nestes campos sejam envidados esforços para o tratamento e as intervenções de saúde. Porém, há tempos que em meu trabalho como psicólogo incluo também uma atenção voltada à espiritualidade (o modelo biopsicosocioespiritual), o que não significa necessariamente uma intervenção fundamentada em alguma religião. Pouca gente sabe que a Organização Mundial de Saúde através de uma resolução publicada na Emenda da Constituição de 7 de abril de 1999 da própria Organização, propôs incluir o âmbito espiritual no conceito multidisciplinar de saúde, o qual agrega, ainda, aspectos físicos, psíquicos e sociais.
Mas o que se entende por espiritualidade? Dentre algumas definições cito duas, extraídas da Revista Brasileira de Educação Médica (volume 34 número 4, Rio de Janeiro Out/Dez. 2010): “Espiritualidade se refere a um amplo domínio da subjetividade humana, refletindo nos valores e ideais mais preciosos das pessoas, assim como o senso de quem são, as suas crenças, o significado e o propósito de suas vidas junto à conexão que elas estabelecem com os outros e com o mundo em que vivem.” e “Espiritualidade representa o meio pelo qual nós encontramos um sentido para tudo, além de esperança, conforto e paz interior em nossas vidas”.
De forma leiga e muito sucinta, homossexualidade humana tem referências biológicas quando a ciência aponta, por exemplo, como sendo de origem genética; tem referências psicológicas quando baliza que no desenvolvimento psíquico há uma “confusão” de gênero sexual; ainda, apenas como ilustração da homossexualidade como possibilidade de origem social, de que o meio em que se vive é determinante para a definição sexual. Sobre este modelo biopsicossocial é que a maioria expressiva dos profissionais da área da saúde estuda e trabalha as diversas situações pelas quais possam passar os homossexuais.
Ter assistido ao professor Hercílio explanar sobre aspectos espirituais relacionados ao tema, fez-me refletir mais uma vez sobre a necessidade da atenção que homossexuais e familiares devem ter. Considerando que vivemos em um mundo muito “normatizado” (lembrem que normas são regras culturais, o que serve para uma cultura pode não ter o mesmo valor para outra) e onde o homossexual é visto como algo normal/anormal, seria muito mais interessante que os tratássemos então como algo natural, produto da Natureza, origem de todos nós. Por fim, uma citação da revista médica em epígrafe pode conciliar o tema da palestra com o que escrevi neste artigo e da maneira como trabalho: “Considerando que os estados de doença provocam uma ruptura nos aspectos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais dos pacientes, as ações de cura deveriam atender a todos esses fatores. Alguns estudos demonstram que muitos pacientes gostariam que os profissionais de saúde abordassem as necessidades espirituais deles...”
César  A R de Oliveira – psicólogo

saude_mental@outlook.com