Mês
passado, no município de Soledade, assisti a uma palestra muito bem proferida pelo
meu amigo professor Hercílio Quevedo, cujo tema - por vezes tabu - era o da
homossexualidade. O que tornou a apresentação diferenciada foi uma explanação
sob a ótica da espiritualidade, uma vez que é sabido que o modelo científico de
Saúde aborda o sujeito com o viés biopsicossocial, orientando para que nestes
campos sejam envidados esforços para o tratamento e as intervenções de saúde. Porém,
há tempos que em meu trabalho como psicólogo incluo também uma atenção voltada
à espiritualidade (o modelo biopsicosocioespiritual), o que não significa necessariamente
uma intervenção fundamentada em alguma religião. Pouca gente sabe que a
Organização Mundial de Saúde através de uma resolução publicada na Emenda da
Constituição de 7 de abril de 1999 da própria Organização, propôs incluir o
âmbito espiritual no conceito multidisciplinar de saúde, o qual agrega, ainda,
aspectos físicos, psíquicos e sociais.
Mas
o que se entende por espiritualidade? Dentre algumas definições cito duas,
extraídas da Revista Brasileira de
Educação Médica (volume 34 número 4, Rio de Janeiro Out/Dez. 2010): “Espiritualidade se refere a um amplo domínio
da subjetividade humana, refletindo nos valores e ideais mais preciosos das
pessoas, assim como o senso de quem são, as suas crenças, o significado e o
propósito de suas vidas junto à conexão que elas estabelecem com os outros e
com o mundo em que vivem.” e “Espiritualidade
representa o meio pelo qual nós encontramos um sentido para tudo, além de
esperança, conforto e paz interior em nossas vidas”.
De
forma leiga e muito sucinta, homossexualidade humana tem referências biológicas
quando a ciência aponta, por exemplo, como sendo de origem genética; tem referências
psicológicas quando baliza que no desenvolvimento psíquico há uma “confusão” de
gênero sexual; ainda, apenas como ilustração da homossexualidade como
possibilidade de origem social, de que o meio em que se vive é determinante
para a definição sexual. Sobre este modelo biopsicossocial é que a maioria
expressiva dos profissionais da área da saúde estuda e trabalha as diversas situações
pelas quais possam passar os homossexuais.
Ter
assistido ao professor Hercílio explanar sobre aspectos espirituais
relacionados ao tema, fez-me refletir mais uma vez sobre a necessidade da
atenção que homossexuais e familiares devem ter. Considerando que vivemos em um
mundo muito “normatizado” (lembrem que normas são regras culturais, o que serve
para uma cultura pode não ter o mesmo valor para outra) e onde o homossexual é visto
como algo normal/anormal, seria muito mais interessante que os tratássemos
então como algo natural, produto da Natureza, origem de todos nós. Por fim, uma
citação da revista médica em epígrafe pode conciliar o tema da palestra com o
que escrevi neste artigo e da maneira como trabalho: “Considerando que os estados de doença provocam uma ruptura nos
aspectos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais dos pacientes, as
ações de cura deveriam atender a todos esses fatores. Alguns estudos demonstram
que muitos pacientes gostariam que os profissionais de saúde abordassem as
necessidades espirituais deles...”
César A R de Oliveira – psicólogo
saude_mental@outlook.com