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quinta-feira, 17 de março de 2011

Viver muito. Com qualidade.

“A velhice é um causo sério, que o tempo
nos conta, sem rir..”  César Passarinho

O V Fórum da Longevidade ocorrido no mês de agosto em São Paulo - promovido por uma respeitável e reconhecida instituição privada - retomou vários conteúdos que dizem respeito ao envelhecimento no Brasil e no mundo. Estimamos hoje que 10% da população brasileira esteja com idade acima de 60 anos, mas a próxima geração (dentro de 30/40 anos) contará com aproximadamente 30% de uma população envelhecida. Muitos dos que leem este artigo poderão futuramente estar na condição dos mais velhos, ou, pelo menos, terão pais, tios ou amigos idosos e longevos, o que implicará em necessárias mudanças em suas vidas. Daí a epígrafe: isto é um causo sério!
Está no Japão, na ilha de Okinawa, o lugar onde as pessoas vivem por muito mais tempo: nos últimos 40 anos a população com mais de 100 anos aumentou em 30 vezes. E sabem ao que os estudos atribuem para a longevidade daqueles centenários? Alimentação, trabalho, família, religiosidade e alegria de viver. Agora, transportando para nossa realidade, como estamos nestes itens? Não se trata de pregar uma dieta de rigores, mas sim de equilíbrio. Sempre que possível, refeições feitas entre família e sem correrias causam um bem estar e servem como um momento de re-encontro. Com relação ao trabalho, é importante a dedicação, mas nunca maior do que a necessária, procurando encontrar (o máximo possível) a sensação de utilidade, de que se esteja servindo a alguém ou a um objetivo. Daquelas conclusões, buscar que se propicie tempo para suas relações afetivas, sejam elas em família ou em grupos sociais e que se adquiram hábitos onde sua religiosidade (não confundir com dogmatismo) possa ser exercida. De tudo isto, a alegria de viver encontrada por eles, naturalmente poderá surgir como um resultado de ações. É do filósofo romano Sêneca a afirmação (a mais de dois mil anos) de que o homem tem maior preocupação em viver muito, quando o que poderia depender dele seriam esforços para viver bem, com mais qualidade.
Há uma cartilha do Sest Senat intitulada “Viva a melhor Idade” que conclui no mesmo sentido dizendo que a qualidade de vida na terceira idade é influenciada por diversos fatores, entre eles “... os fatores físicos, psicológicos, sociais e culturais”. Chamo a atenção de que, em todos estes, cabem unicamente a cada um a decisão de suas próprias intervenções. Devemos repensar sobre o quanto de investimentos estamos fazendo em nós mesmos para uma melhor qualidade de vida.


César AR de Oliveira – psicólogo

quarta-feira, 9 de março de 2011

Dependência de jogos na Internet

“O organismo de um viciado em jogos de computador reage de maneira parecida ao de um viciado em drogas como crack ou cocaína.(...) Isso faz o viciado querer passar o tempo todo jogando” – Daniel Spritzer, psiquiatra UFRGS

Não há exageros na afirmação supracitada, pois o que está em comparação é a dependência psíquica de jogos virtuais e não os malefícios decorrentes do tipo de droga utilizada. A dificuldade do diagnóstico está em razão de que, no caso de filhos, os pais preferem tê-los em casa em frente a um computador a estar nas ruas expostos à violência e todos os riscos inerentes, enquanto que a dependência dos adultos fica disfarçada sob a forma de diversão. A reclamação, quando há, é a de que os filhos permanecem muito tempo utilizando o computador, mas os pais não vêem isto como um problema que necessite de tratamento, enquanto que com o adulto, caracterizam-se problemas de rendimento no trabalho ou nos estudos e de relacionamentos, além de dificuldades financeiras que começam a acentuar-se.
Embora o computador seja um equipamento recente no uso doméstico, cada vez mais torna-se acessível, e, se ainda não está como os televisores na maioria dos lares brasileiros, está ao alcance nas lan houses (termo sem tradução ao português) a preços tão acessíveis quanto ao custo de um refrigerante. Muito embora tenhamos visto esforços da polícia no combate a casas de jogos (bingos, caça-níqueis e similares) a compulsão pelo jogo não está baseada unicamente na premissa de ganhar dinheiro e, o mais importante, computadores estão em casa, no trabalho, nas escolas e em muitos outros locais distantes da polícia. As pessoas dependentes de jogos são tomadas de Transtorno Obsessivo Compulsivo e podem estar jogando sem a necessidade de apostar dinheiro, mas que dificilmente sem algum tipo de ajuda conseguirão parar.
Mas o que pode haver de problemas se o jogo se dá em casa e não implica em apostas? Bem, há que se considerar que alguém que tenha uma predisposição para o jogo poderá fazê-lo sob a forma de apostas quando tiver oportunidade. É sabido que na ilegalidade existem apostas virtuais no mundo todo e sob as mais variadas formas, inclusive pagáveis em cartões de crédito pela internet. Recentemente no Brasil foram flagradas apostas em brigas de lutas-livres (as quais eram transmitidas para o mundo todo) e na Europa em jogos de tênis, onde pairou a suspeita sobre manipulação de resultados das partidas. Não obstante, se a compulsão se dá pela utilização de lan houses, o jogador/dependente poderá ficar exposto ao assédio de terceiros, ao consumo de bebidas alcoólicas e, em algumas situações até mesmo de entorpecentes. Um adolescente que desvia sua mesada para pagar pelo uso de computadores, ou, que não tendo dinheiro para tal, vai, como no mundo das drogas, encontrar outras formas de obter recursos
Esta dependência é tão relevante que nos Estado Unidos as Universidades de Harvard e Yale têm departamentos específicos para o tratamento deste tipo de paciente, além de estudos e pesquisas que auxiliam na compreensão do fenômeno. Na Europa alguns países já desenvolvem atendimento psicológico para este tipo de dependência, enquanto que no Brasil o Hospital das Clínicas de São Paulo dispõe do projeto Dependentes de Internet, o Instituto de Psiquiatria da USP e a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro prestam atendimentos e grupos de apoio, para citar alguns exemplos. Estima-se que aproximadamente 500 mil pessoas sejam dependentes de jogos pela internet só no Brasil.
Considerando que tal compulsão pode atingir tanto aos filhos como aos adultos da casa, é recomendável que se observem alguns comportamentos: Qual o tempo de permanência destes frente a computadores ou se o dia gira em torno do computador e só fala sobre internet; se vem aumentando o tempo que permanece frente ao computador ou se mente sobre isto; se tenta diminuir a freqüência com que joga mas não consegue; se apresenta depressão; se não se alimenta bem, não faz higiene pessoal, tem olhos secos, enxaqueca e insônia, além de, se sente irritação quando não pode usar o computador; se não tem amigos, vida social e profissional, ou se tem problemas na escola ou no trabalho.
Caso alguns destes comportamentos sejam observados procure ajuda profissional, uma vez que em tratando-se de uma compulsão ao jogo, poderemos estar diante de um quadro clínico que precise de intervenção.

César AR de Oliveira - Psicólogo

terça-feira, 1 de março de 2011

Quando as mulheres bebem...

“ Não tire da minha mão esse copo
Não pense em mim quando eu calo de dor
Olha meus olhos repletos de ânsia e de amor ”
 (Ângela Ro-Rô)

Por muito tempo alcoolismo foi considerado como um problema de homem, uma falha moral, um problema social e depreciativo onde o alcoólatra transitava entre o vagabundo, o mendigo, o pecador, ou mesmo, para as classes mais altas, o membro decaído da sociedade. Em que pesem esforços desde o início do século passado, o alcoolismo sequer era tratado como doença, o que aconteceu somente a partir de 1951 quando a Organização Mundial de Saúde o reconheceu oficialmente como uma enfermidade.
Aparentemente um problema masculino, hoje, a preocupação chega também às mulheres. Várias considerações podem ser formuladas para isto: sob aspecto biológico, as mulheres têm no estômago um menor número de enzimas chamadas álcool desidrogenase, um menor peso (se comparadas aos homens) e, conseqüentemente, menor índice de água no corpo, o que contribui para que fiquem mais rapidamente embriagadas. Dentre os aspectos psicológicos e sociais, destacam-se a necessidade de beber para melhor trabalhar ou conviver em sociedade, para compensar “ausências”, problemas financeiros, crises familiares, aliviar tensões e ansiedades, livrar-se do tédio ou da fadiga, enfim, liberar sentimentos ou vários outros pretextos.
Em que pesem as constantes mudanças de valores sociais, ficar embriagado em público, ainda é mais tolerável aos homens, pois álcool e virilidade, culturalmente, andam juntos. A mulher que bebe em excesso recebe mais críticas e só é tolerável se for jovem e atraente (objeto sexual fácil, inofensivo e irresponsável), pois a mulher que começa a falar mais alto, chamar a atenção e tornar-se agressiva e escandalosa, é inaceitável. Permanece a mensagem velada de que é possível às mulheres beberem, desde que não fiquem embriagadas. Que o digam Paris Hilton, Naomi Campbell, Lindsay Lohan para não estender a lista e nem chegarmos às compatriotas.
Na obra “O alcoolismo e as mulheres“ (Cultrix, 2003), a psicóloga Jan Bauer relata várias possibilidades de abordagens às dependentes, passando pela ótica moral até os antigos e modernos modelos médicos e psicológicos. Sua conclusão é a de que quando é reconhecido o alcoolismo feminino as mulheres passam por mais imorais, mais frágeis e mais doentes (dependentes) do que os homens. O sofrimento da mulher que bebe transcende a si e acaba sendo vivido também pela família. Se aumentada sua dimensão, passa a trazer transtornos sociais, legais, no trabalho e em qualquer relação, além de implicações na sua saúde. Quadros depressivos, sentimento de não ser compreendida, desânimo, baixa-estima, irritabilidade, falta de apetite e conseqüente perda de peso, além de uma série de implicações orgânicas, são apenas alguns sintomas decorrente do alcoolismo.
Há um estigma social muito forte sobre o reconhecimento do alcoolismo em mulheres, então, é comum que famílias neguem a existência de casos, principalmente se convencidas pela dependente (que também reage com negação) de que a mesma bebe “apenas socialmente”. Sempre é tempo de buscar um tratamento, um auxílio profissional, uma possibilidade de recuperar a vida. Hoje, nos EUA, cerca de 1/3 de membros dos Alcoólicos Anônimos é de mulheres.
Com relação à citação em epígrafe, rendo homenagem à cantora e compositora Ângela Ro-Rô, a qual, depois de muitos problemas por causa da bebida, encontra-se reabilitada, compondo, cantando, com um leve problema de saúde, mas, de bem com a vida. É possível uma vida boa sem os excessos da bebida.
César AR de Oliveira
Psicólogo